quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

ENTREVISTA COM RUBENS SARACENI

Fonte: http://www.curaeascensao.com.br/orixas/orixas14.html

Entrevista com Rubens Saraceni - REVISTA CRISTÃ DE ESPIRITISMO -
Escrito por JUCA
JUCA: O estudo teológico da Um­banda e o desenvolvimento mediúnico realizado num dia específico foram iniciativas suas?
RUBENS SARACENI: Em relação ao desenvolvimento, não acredito que tenha sido pioneiro, logo que abri o Centro, foram surgindo pessoas com mediunidade que precisavam se desenvolver e nos dias de trabalho, o espaço físico mal comportava os médiuns e a assistência, sem contar que nesses dias a carga é muito pesada, então, apenas segui a orientação da espiritualidade para que destinasse um dia apenas para os médiuns em desenvolvimento. Segundo a espirituali­dade, o médium que precisava se desenvolver poderia entrar em contato com uma energia negativa e por falta de conhecimento, teria dificuldade em livrar-se dela. Nos dias reservados ao desenvolvimento, acontecem giras nor­­mais, só não há assistência e nessa oportunidade, os médiuns podem aprender a reconhecer as energias próprias de cada Entidade e de cada Orixá. O estudo teológico de Umbanda sim é pioneirismo nosso.
JUCA: Como o curso de teologia alertou para a necessidade de os médiuns estudarem?
RUBENS SARA­CENI: Veja bem, cursos e livros sobre a Umbanda existem desde 1930. Naquela épo­ca, os umbandistas acha­ram que esse recurso era necessário para aqueles que queriam praticar a Umban­da e não sabiam como. Agora um curso específico, voltado ape­nas à formação reli­gio­sa da pessoa, inde­pen­­dente de assumir sua mediu­nidade ou não, é atual, pois até então, esse tipo de curso era voltado unicamente para aqueles que praticavam a religião.

Por orientação da espi­ritualidade, nós abrimos esses cursos para todos aqueles que quisessem conhecer a religião da Um­banda, sem implicar na adoção da religião na sua vida. É um curso relativamente curto, que muitos dirigentes já passaram adiante, não apenas para seus médiuns, mas também para a assistência, que passam a adotar a religião não por medo ou temor, mas porque passam a admirar a Umbanda.

O Curso Livre de Teologia de Um­banda é bastante dinâmico, acompanha a evolução da religião e da sua linguagem, adaptado às necessidades das pessoas que o procuram. Eu não criei esse curso, fui apenas o canal utilizado por Pai Benedito de Aruanda, Pai Beira Mar Mestre Seimam e outros espíritos. Fui aquele que batalhou a ferro e fogo a tantas resistências, que hoje já não são tantas, porque o número daqueles que vêem que a religião precisa se adaptar aos novos tempos, na sua apresentação pública, está crescendo. A Umban­da não pode mais ser apresentada co­mo no passado: “Ou você vem por amor, ou vem pela dor”. Por mais que isso possa ser verdade, hoje esse amor é porque o médium aceita a Umbanda como sua religião, e a dor é porque ele é médium e pode ter alguma dificuldade espiritual e a Umbanda pode diminuir essa dor ou até anulá-la a nível espiritual.
JUCA: Então a Umbanda é conhecimento?
RUBENS SARACENI: A Umbanda só vai se fixar no plano material como uma grande religião no dia em que ela usar o conhecimento como um fator para atrair as pessoas. O Budismo atrai as pessoas, não através do Buda, mas através das mensagens do Buda. O Cristianismo não atrai as pessoas pelo Cristo, o homem crucificado, mas pelas mensagens deixadas pelo Cristo. A Umbanda não vai atrair as pessoas pela sua dor, mas pela mensagem regeneradora, curadora, salvacionista, redentora. Principalmente redentora.

A Umbanda tem uma missão redentora que ela ainda não assumiu de público. Todos nós sabemos que existem problemas carmáticos de difícil solução, que são resolvidos através do desenvolvimento da mediunidade, do trabalho desses problemas com o auxílio da espiritualidade, para que esses problemas acontecidos em outras vidas tenham uma solução através do espírito. Isso é a redenção do Ser. A Um­banda tem isso a oferecer, mas ainda não está usando a melhor linguagem para levar isso às pessoas. No dia em que essa linguagem se tornar uniformizada entre todos os umban­distas, a Umbanda se tornará tão atratora, que as outras religiões terão não um adversário, mas um exemplo de como transformar o ser humano, transmutar o íntimo dele, espirituali­zando-o cada vez mais. Os umbandis­tas precisam entender que essa espiri­tualidade que me usou como canal não é estática, mas se transmuta com o passar do tempo. Sua linguagem e conceitos se transmutam, e toda uma forma de abordagem religiosa e pregação doutrinária está sendo formada.
JUCA: Hoje, há um grande número de canais de mídia que tem aumentado a divulgação da Umbanda, e como conseqüência, há também uma maior exposição. Essa exteriorização é positiva?
RUBENS SARACENI: Não é da melhor forma possível que isso está acontecendo. Mas é da forma que ainda é possível. E antes que se torne impossível, nós temos que ocupar esse espaço. Se não fizermos dessa forma, não teremos acesso a meio de comunicação nenhum. Nacionalmente, a Umbanda está excluída dos meios de comunicação. Restaram-nos as iniciativas isoladas de pessoas corajosas, em diversos lo­­cais, levando in­for­­mações aos se­us grupos. Às vezes isso gera curiosidade, e até reações negativas por parte de alguns umbandistas, e até que se gere um canal de comunicação em massa na Umbanda, haverá problemas ainda.
JUCA: A Um­banda vem se tornando mais conhecida, e com isso es­tá se distanciando do candomblé e do espiritismo. Então podemos dizer que ela vem se setori­zando?
RUBENS SARACENI: Está havendo um grande movimento de identificação, que inclusive conta com meu apoio. Grandes líderes candomblecistas vêm se esforçando para dar uma identidade ao candomblé. Embora seja a casa mãe de todos os cultos de nação africana, eles estão lutando para preservar sua identidade. Eu acho isso muito positivo e tenho lutado para dar à Umbanda essa identidade também. A partir do momento que ela se distancia do Candomblé e do Espiritismo, ela assume uma identidade como religião. Não falo em separação, mas em assumir uma identidade pública. Ninguém pode assumir uma identidade dupla. Na lei dos homens, é qualificado como falsidade ideológica. Na religião é como acender uma vela para dois deuses. Apesar de serem três religiões mediú­nicas, são distintas, com doutrinas e ensinamentos específicos.
JUCA: Ainda existe preconceito e intolerância contra a Umbanda?
RUBENS SARACENI: Sim. A Umbanda apesar de ser a religião mais tolerante que existe, é a mais intole­rada. Não apenas por membros de ou­tras religiões, mas pelos próprios um­ban­distas, que não a assumem. Existe uma intolerância latente, que torna comum frases do tipo “umbandista é assim mesmo”... Existem muitas denúncias de intolerância contra os trabalhos umbandistas, algumas culminando até com o fechamento dos templos espirituais. Esses fatos foram se somando e levaram a necessidade de pensarmos numa reação positiva, criando um movimento que congregasse todas as vertentes em torno de propostas que beneficiariam a todos. O maior entrave está sendo a dificuldade de mobilização. Sem um respaldo, como chegar diante do Poder Público com meia dúzia de gatos pingados?
JUCA: Qual seria a solução?

RUBENS SARACENI: Hoje há um chamado da espiritualidade no sentido de diminuir distâncias entre as lideranças. O lado material da Umbanda precisa mostrar-se coeso. Hoje estão surgindo várias iniciativas neste sentido, e eu entendo isso como um chamado do Astral. Há uma iniciativa por parte do SOUEESP que visa reunir periodicamente essas lideranças para se conseguir maior motivação e mobili­zação dos umbandistas. Toda iniciativa tem um saldo positivo. São sementes que estarão sendo lançadas e as que caírem em solo fértil, prosperarão. Há uma resistência dos próprios umbandistas que vem se tornando cada vez mais evidente. Muitos relutam em tornar isso público. Muitos fazem trabalhos maravilhosos, mas ficam restritos aos seus próprios Centros. Isso precisa ser mudado, eles precisam dar o seu voto de confiança para a religião, expondo-se publicamente, para que se crie a sensação de grandiosidade, que existe, mas está oculta. Os umbandistas ainda não entenderam que as mobilizações são motivadoras para novas adesões. Nós somos muitos, e existe uma maioria silenciosa que está crescendo. Ainda é uma coisa de boca a boca, fica restrito aos fundos dos quintais. Quando o umbandista descobrir o seu poder de mobilização, e ver nesse poder uma forma de valorização da sua religião e da sua religiosidade, aí a Umbanda conquistará o seu espaço público e vai adquirir respeitabilidade. Essa mobilização vai trazer o reconhecimento da Umbanda como religião.

O Jornal de Umbanda Carismática

Solange Christtine Ventura
www.curaeascensao.com.br


terça-feira, 29 de janeiro de 2013

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Momentos de sustentação e transformação


Quando acordamos em um belo domingo e recebemos a noticia de uma tragédia como a ocorrida em Santa Maria/RS no último dia 27/01 somos tomados por uma comoção, um sentimento comum invade nosso ser.
Sentimos a perda de irmãos que nem ao mesmo conhecemos,  sentimos a dor das famílias que foram rompidas, dos sonhos desfeitos.
São momentos difíceis para os que vivenciam a experiência da tragédia como para todos que estão acompanhando. Contudo se faz fundamental para nós, que assistimos de longe, manter um padrão mental equilibrado e direcionado ao trabalho edificante.
Ficar visualizando as cenas da tragédia, compartilhar fotos, depoimentos, ficar falando que “poderia” ou “deveria” não são atitudes adequadas para os Soldados do Cristo, deixemos que as autoridades competentes assumam as suas funções, mas nós podemos amparar em vibrações, em amor, em sentimento aqueles que partiram, aqueles que sofreram traumas no episódio, aquelas famílias que ficaram, este é o papel do verdadeiro Cristão, seja ele católico, neopentecostal, espirita, umbandista enfim... a cada um conforme sua crença, seu modo, sua forma.
Vamos olhar as oportunidades, as graças, as chances que foram lançadas para todos. Sabemos que estamos vivendo em um momento de transição e grandes comoções serão abatidas sobre todos, mas também sabemos que podemos fazer o BEM, podemos purificar a psicosfera de dor e desolação que se abateu sobre a cidade de Santa Maria ao invés de alimenta-la.
Vamos fazer a nossa parte, lembrando que pensamento, palavras, gestos e sentimentos são ferramentas potentes para a construção de algo melhor.
Contamos com a participação de todos.

domingo, 27 de janeiro de 2013

Os Guias Espirituais e a Missão da Umbanda

Escrito por Rubens Saraceni


astral4Nós sabemos que o ato de incorporar espíritos acontece desde os primórdios da humanidade sendo que tanto acontecem incorporações controladas quanto totalmente fora de controle.

As incorporações controladas acontecem dentro de trabalhos mágico-religiosos, também tão antigos quanto a humanidade, não sendo privilégio da Umbanda reproduzir regularmente este fenômeno mediúnico porque povos muito antigos e que desconhecem a existência da Umbanda já praticam há milênios a incorporação controlada de espíritos ainda que elas se mostrem menos elaboradas que na Umbanda, pois esta ritualizou e diferenciou aincorporação.

Já as incorporações descontroladas vêm acontecendo desde os primórdios dahumanidade e não está limitada a um ou outro povo porque acontece em todos os lugaressendo que nem sempre foi aceita como tal e sim se atribuiu a este fenômeno a denominação de loucura, segregando estas pessoas de suas famílias e da sociedade porque, quando possuídas tornam-se incontroláveis.

A incorporação ou possessão descontrolada de espíritos foi explicada no decorrer dostempos por todas as religiões e cada uma a descreveu segundo o seu entendimento sobre o assunto, com cada uma desenvolvendo um formulário mágico-ritualístico para lidar com este fenômeno.

Ainda hoje, em pleno século XXI, vemos algumas religiões lidando com este fenômeno de um modo arcaico e já ultrapassado, pois desde o advento de Allan Kardec e do espiritismo essas possessões foram muito bem explicadas e colocadas à disposição de todos, facilitando a compreensão da mediunidade, que não tem nada a ver com a existência de um suposto “diabo” tão poderoso e oposto a Deus que vive atentando as pessoas e possuindo-as para levá-las para o inferno.

Hoje, graças ao trabalho de Allan Kardec compreendemos perfeitamente estaspossessões descontroladas e até podemos auxiliar médiuns possuídos por espíritos vingativos a lidarem com esta faculdade mediúnica livrando-os do sofrimento ao qual estavam submetidos.

Então, que fique bem claro para todos que não existe uma só religião para auxiliarpessoas com desequilíbrios acentuados em suas faculdades mediúnicas.

Para uma correta compreensão da possessão descontrolada temos que:

1º Acreditar na imortalidade do espírito.

2º Acreditar que se muitos evoluem no plano material e desenvolvem um elevado estado de consciência que os conduz a planos espirituais luminosos também acontece a regressão consciencial que conduz muitos espíritos a planos espirituais escuros retendo-os para que, no arrependimento corrijam-se.

3º Também sabemos que, assim como muitos espíritos que evoluíram agradecem a Deus e colocam-se como auxiliares dos que reencarnam, muitos dos espíritos que regrediramconsciencialmente revoltam-se contra Deus e tornam-se perseguidores dos espíritosencarnados e principalmente daqueles que eles acham que são os responsáveis pelas suas quedas.

4º Esses espíritos “caídos” formam numerosas hordas de afins que sentem prazer em desencaminhar os espíritos retidos nas faixas vibratórias negativas, desenvolvendo neles a revolta contra Deus e a busca de vingança contra seus desafetos ou inimigos ainda encarnados ou não.

Pois bem, como isto já foi muito bem descrito por Allan Kardec, que criou um sistema de lidar com estes espíritos dando origem ao espiritismo então precisamos compreender o contexto onde se insere a Umbanda, que adotou muitos dos conhecimentos trazidos por Allan Kardec, mas adaptou-os em uma forma diferente de utilizá-los.

Se no início do século XX o espiritismo estava em plena expansão desenvolvendo um trabalho muito grande de auxílio às pessoas obsediadas por seus algozes espirituais, no entanto eles se deparavam com a imensa quantidade de pessoas que não estavam sofrendo obsessão, mas sim eram vítimas das mais diversas modalidades de magia negativa praticadas aqui no plano material por pessoas conhecedoras delas e que recorriam a elas para se vingarem dos seus desafetos ou inimigos encarnados.

Com as possessões ou obsessões o espiritismo lutava muito bem, mas, com as magias negativas englobadas no nome “magia negra” não possuíam os recursos mágicos necessários para anulá-las e libertar as pessoas de ações muito bem direcionadas para destruí-las.

Voltando no tempo nós encontramos em todos os continentes varias religiões, muitasdelas já desaparecidas, que tinham a magia positiva ou “branca”, que era recurso paraanularem as ações mágicas negativas e livrarem as pessoas vitimadas por elas dossofrimentos que elas lhes acarretavam.

Mas muitas destas antigas religiões que tinham na magia positiva o antídoto correto contra a magia negativa haviam desaparecido quase por completo, só restando poucos conhecedores profundos da verdadeira magia delas. Então o plano espiritual se movimentou para criar, nos moldes do espiritismo, uma nova religião que teria na magia um poderoso recurso para auxiliar pessoas vitimadas pelos que recorriam à magia negra para atingi-los.

O pouco que havia restado dessas antigas religiões estava refém de algumas pessoas que não se limitavam só a prática da magia branca e sim, dependendo da recompensa também realizavam magias nefastas ao gosto dos seus contratantes.  

Porque eram muitos os que procuravam este tipo de acerto de contas com seus desafetos ou inimigos, muito era o sofrimento das pessoas vitimadas por elas e que, se não podiam pagar para quem sabia desmanchá-las, ficavam sofrendo sem ter a quem recorrer, pois tanto a feitiçaria indígena praticada aqui no Brasil quanto a europeia e a africana, etc., não fazem distinção na sua prática e sim, tanto a realizam para o bem quanto para o mal sendo que seus praticantes atribuem a responsabilidade por elas aos que os contratam, eximindo-se de qualquer culpa.

Diante desse quadro sombrio foi que a espiritualidade superior se organizou para criar uma religião nos moldes do espiritismo, voltada para a prática da magia branca, com uma dinâmica própria para se contrapor à prática da magia negra.

Assim como a prática da magia negra envia para as faixas negativas os seus praticantes, a magia branca envia para as faixas positivas os praticantes dela.

E foi entre os espíritos praticantes da magia branca que essa nova religião ressonou mais intensamente atraindo muitos milhares deles que aceitaram organizar-se para, através da incorporação mediúnica controlada, começarem a ajudar as pessoas vítimas de magias negras.

Espíritos de grande evolução arregimentaram muitos milhares de outros que já seguiam suas orientações e diante dos Sagrados Orixás assumiram o compromisso de, dentro da nova religião, criarem linhas de trabalhos espirituais que ligadas e regidas pelos Orixás formariam a espinha dorsal da nova religião denominada inicialmente de Linha Branca de Umbanda e Demanda.

Esses espíritos de grande evolução arregimentaram muitos milhares de outros espíritos também conhecedores da magia e que, em suas últimas encarnações haviam pertencido a várias religiões e povos diferentes, inclusive praticavam de formas diferentes suas ações e, que quando começaram a incorporar solicitavam dos seus médiuns elementos de magia diversificados.

Uns trabalhavam com ervas, outros com velas, outros com colares, outros com pontos riscados, outros com fitas, linhas e cordões, outros com bebidas, outros com pós, etc. criando em pouco tempo um vasto formulário mágico umbandista que, se usava os mesmos elementos usados em outras religiões mágico-religiosas, no entanto davam a estes elementos uma utilização diferente e isto causou espanto nos tradicionalistas que, desconhecendo o poder mágico dos guias de Umbanda achavam que a nova religião agia de forma profana com elementos de magia tidos como sagrados para eles.

Na verdade, não são os elementos que contêm poderes em si mesmos e sim eles estão nas mãos dos espíritos guias de Umbanda que os manipulam segundo a necessidade das pessoas que os consultam e eles, livres de qualquer convencionalismo ou ritualismo os manipulam o tempo todo sem se preocuparem com o que deles falem quem duvida dos seus poderes mágicos.

Portanto a nova religião criada com o nome de Umbanda diferencia-se do espiritismo tradicional, ainda que se sirva dos seus conhecimentos, e diferencia-se dos tradicionais cultos afro-ameríndiobrasileiros porque ainda que se sirva das suas nomenclaturas ou iconografia, no entanto deu a elas uma nova utilização e entendimento visando facilitar seus trabalhos mágico-religiosos em benefício das pessoas vitimadas por nefastas magias negativas.

Esta simplificação na manipulação dos elementos de magia e de culto e acesso asDivindades é o que diferencia a Umbanda do moderno espiritismo e das antiguíssimasreligiões mágicas e engana-se quem pensa que todos os espíritos são iguais, pois háaqueles que não são capazes de uma única ação mágica e há os que têm um grandepoder de realização desenvolvido quando ainda viviam no plano material e que foramaperfeiçoados depois que desencarnaram e que, já livres das limitações do corpobiológico sentiram-se aptos a ampararem muitas pessoas ao mesmo tempo, trabalhoeste que podem realizar após ingressarem em alguma linha de trabalhos espirituais umbandistas.

Não houve o acaso na criação da Umbanda e ela atendeu a um clamor dos espíritos altamente evoluídos direcionado a Deus para que Ele lhes facultasse uma via religiosa afim com suas formações passadas onde, ainda no plano material, já se dedicavam a amparar e ajudar pessoas vitimadas por magias negativas ou perseguidas por seus inimigos espirituais.

Muitos, ao descreverem a criação da Umbanda limitam-se ao evento acontecido no lado material com o seu fundador pai Zélio Fernandino de Morais e não atinam com a sua real criação já acontecida no plano espiritual.

Portanto que nenhum médium umbandista se surpreenda com a forma dos seus guias trabalharem e não atribua a eles ignorância ou atraso religioso porque as ditas religiões mentalistas ou filosóficas não sabem como combater as ações mágicas negativas desencadeadas em grande parte por seguidores delas que buscam nessa modalidade de magia acertar suas contas pendentes com seus inimigos encarnados e, justamente por não saberem lidar de forma correta com a magia negra e com as hordas de espíritos trevosos que atormentam seus seguidores, preferem atribuir o sofrimento deles a um suposto diabo, oposto a Deus, do que reconhecerem que a prática do mal contra os seus semelhantes é inerente ao ser humano, mas que essas religiões não sabem como combater.

Matéria do Jornal Nacional de Umbanda www.jornaldeumbanda.com.br

sábado, 26 de janeiro de 2013

Homenagem aos cambones que tem experiências maravilhosas ao lado das entidades....

Publicado no perfil do nosso irmão Wanderley Oliveira (facebook)


Homenagem aos cambones que tem experiências maravilhosas ao lado das entidades....

Relato de uma Cambone 

Por Sheilla Riekes Prochmann - Abril de 2004

Quando, pela primeira vez, estive nesta Casa, trazida pelo amor e pela dor, fiquei encantada, literalmente hipnotizada, pela plasticidade e pelo espetáculo cênico que vi. O toque dos atabaques entrou em mim no mesmo ritmo do pulsar do meu coração e eu me deixei levar pela magia e força da gira de Ogum. Pensei já ter me surpreendido com tudo naquela noite, até que me foram apresentados os Exús, daí entender porque se diz que, nesta vida se vive e não se vê tudo.
Aquelas Entidades de olhar penetrante, comandadas por Sr. Tranca Ruas das Almas, com suas capas vermelhas e negras, movimentando- se pelo Terreiro, me fizeram lembrar do fascínio, tantas vezes descrito, de Hemingway pelas touradas. Pareciam todos toureiros, numa invisível tourada do bem contra o mal; da cura contra a dor; do alívio contra a demanda.

Mesmo sem conhecer os seus “porquês”, podia-se entender, sem usar a razão, a grande batalha que se travava ali, um combate cheio de amor e “malícia”, para subjugar forças poderosas e invisíveis.
Durante uma semana não consegui pensar em outra coisa que não fosse voltar. E voltei. Para, semana após semana, ser surpreendida. Ora pela simplicidade e sabedoria dos Pretos Velhos, ora pela força e dignidade dos Caboclos. Ainda me estava reservado o encantamento pela elegância dos Ciganos, pela alegria das Crianças, e me deixei laçar pela fantástica retidão dos Boiadeiros.
De tanto ir e vir quis ficar, vestir o branco no corpo e na alma e fazer parte daquele balé pela paz e pela vida.
No primeiro dia na corrente, aquilo que imaginei ser só alegria, se transforma numa mistura de emoções que poucas vezes havia experimentado na vida. Vontade de ir e de ficar, confiança e dúvida, segurança e medo, mas fiquei mesmo assim, ciente de que estava fazendo a escolha certa e dando uma chance, não para a Umbanda, mas para mim mesma.

Sempre gostei de desafios, e este foi dos bons. Tive de aprender a deixar soltar as amarras que me prendiam ao domínio de mim mesma, a não ter sempre o comando absoluto de tudo, e mesmo assim, conciliar consciência e ausência.
E aí, fui cambonear, e outras lições me aguardavam. Lições de dedicação e humildade. Percebi que não bastava respeitar, era preciso servir. Mas não uma servidão cega, e sim um servir onde se compartilha ensinamentos, donde se suga todo proveito possível; até entender que estava servindo a mim mesma. Cada charuto que acendi, cada bebida que servi, cada ponto que lavei, acenderam em mim uma chama que arde, mas não queima; me embriagaram de esperança e lavaram de minha alma toda e qualquer dúvida que ainda resistia em mim.
Toda vez que achei que não me surpreenderia com mais nada, fui pega pela minha própria ingenuidade. E chorei todas as lágrimas de emoção a que tive direito.

Quando vi Sr. Akuan repreender com os olhos cheios de amor, lembrei do que é ser pai ou mãe. Quando vi Sr. Folha Verde emocionar-se em meu casamento entendi que vale a pena, sempre, chorar de emoção; quando levei um imenso puxão de orelhas do Sr. Rompe Mato e, ao me desculpar ouvi dele “eu só brigo com quem gosto” me certifiquei da profundidade de uma verdadeira relação de amizade e afeto.
No dia em foi jogado meu Obi, limpei meu coração de todo e qualquer desejo, e fui presenteada com os ventos da força e da coragem que são soprados por Iansã. E ser filha dela não é fácil. Tenho que dominar a intensidade de meus próprios ventos, para que eles refresquem e limpem, mas não destruam. E a não despejar sobre Ela, a responsabilidade pelos meus próprios vendavais. Eu continuo ventando, assim como ela, mas já consigo transformar raios e tempestades em chuvas mais amenas. Pelo menos venho tentando com afinco. Às vezes consigo, às vezes não, mas tenho contabilizado apenas os êxitos, para não me entristecer com o que não consegui.

E continuo lavando tábuas, uma a uma. Quando esfrego uma tábua, limpo de mim toda mágoa, quando quebro uma vela, quebro minhas resistências, quando afio um ponteiro, torno mais afiado meu desejo de um dia, quem sabe, chegar onde devo ou preciso. Venho me apaixonando constantemente. Deixei-me seduzir pelo humor ácido da minha querida Velha do Cemitério, que me chamava de “metida à sabichona e curiosa”, e que confiou a mim o motivo pelo qual vem servindo a quem precisa, contando-me sua história, que tentei reproduzir da maneira mais fiel possível, para conhecimento de todos. E tive que dominar o ciúme de vê-la camboneada por outra pessoa que não eu. Fui tomada pelo carisma da Cigana Carmen, que ao me emprestar seu espelho, pediu que nele eu visse refletido quem realmente sou. Encantei-me com o comportamento cheio de humor e sabedoria de Chermira, que me ensinou a ver o amor de um modo surpreendente e inesperado; pela devoção de Vovó Maria Conga por Nossa Senhora dos Açores, e que com muita paciência me contou que trançava palha de cana, infinitas vezes, até a raiva passar (como seria bom se aprendêssemos a trançar nossa própria raiva , neste cativeiro em que vivemos!).

Convivi com a força dócil do Sr. Vira Mundo, e com a magia encantadora de Mama Rosa, cujo perfume pude sentir durante dias, dando a certeza de sua presença. Fui tomada pela “pontaria certeira” das cartas de Ramirez, e compartilhei a sua felicidade ao reconhecer entre os que ali estavam, a sua filha de carne; e pela a alegria, por vezes quase infantil de Vovó Catarina, (só não aprendi, ainda, a acender cachimbos, mas eu chego lá) , isso, sem falar na sua vitalidade, deixando-me exausta mas feliz, de tanto andar atrás dela.
Presenciei Tio Antônio aborrecido e desconfortável por beber uma bebida que não era a dele, mas mesmo assim, ser gentil com quem esteve em sua frente. Até que, ao cambonear Caboclo Boiadeiro, eu pude ver, com olhos que nem sabia ter; seu rosto de homem agreste, magro e moreno, se formar por sobre as feições loiras do seu cavalo. Minha emoção foi igual à dele, choramos os dois, e ouvi dele que a emoção é um dos ingredientes indispensáveis à gira de Boiadeiros, que só com esse sentimento conseguimos tornar concreta e possível a força destes “homens” tão ligados a energia que vem da terra. Disse-me também, que por vezes é mais fácil tanger gado que homens, que estes animais de tamanho e força incríveis, tem a docilidade de se deixar conduzir, que nós não temos, mesmo quando precisamos ou pedimos.

Aprendi a compreender o peso da dor do Caboclo Guará, ao ver sua tribo dizimada e seus filhos mortos por ele mesmo, na tentativa de solver com sangue, sua incapacidade de escolher a hora certa de guerrear (quantas vezes nós mesmos não adiamos nossas batalhas e, quando por fim, nos decidimos, lutamos a luta certa na hora errada). Hoje respeito seu silêncio cheio de dor e arrependimento, e sei que o simples fato dele estar ali já nos ajuda, sem que precise dizer uma palavra sequer.
E o que dizer do Sr. Ogum Matinata? E da minha satisfação em conseguir romper a sua resistência inicial ao cambone novo? (E aprendi com a Uca a não ter ciúmes dos novos cambones e a quem agradeço por todas as vezes que recorri a ela e fui ajudada). Sr. Matinata, agora, me conduz pelos caminhos da sua sabedoria, pelos segredos da magia do seu ponto, e pelo modo quando, ao nos chegar pelas costas nos faz escancarar o coração.

“Quem vê cara, não vê coração, filha!”, me disse ele. E eu fico ali, segurando seu coité, bebendo dos ensinamentos que ele, no seu modo sisudo de ser, me dá com tanta boa vontade. Sr. Táta Caveira mereceria um capítulo à parte. E ai de quem não andar na linha! Inclusive eu! Ele exige na mesma proporção que entrega. Diz todos os palavrões que eu mesma tenho vontade de dizer, e por vezes digo. Fica indignado com a falta de vontade e força das pessoas, mas os acode sempre. Fica bravo, mas protege; xinga, mas ajuda; reclama, mas está sempre lá, às vezes de bom, às vezes de mau humor, como todos nós, e recebe a todos com aquele olhar maroto de “lá vem mais um...”. Conversa com Sr. Morcego,com a intimidade de velhos amigos, ao mesmo tempo em que me cobre com sua capa, sempre que pressente que eu preciso de “colo” e diz que só eu mesma para gostar de “colo” de Exu. E eu gosto!

E assim me é permitido ir transitando entre essas Entidades maravilhosas, entendendo que estão mais próximas de nós do que podemos supor, como disse a Velha do Cemitério, quando choraminguei que estava com saudade dela: “Só temos saudade de quem está longe, filha!”.
Só não entende quem não quiser! E vou continuar lavando tábuas, acendendo charutos e velas, servindo bebidas, pois é o mínimo que posso dar, pelo muito que tenho recebido.

Relato de uma Cambone 

Por Sheilla Riekes Prochmann - Abril de 2004

Quando, pela primeira vez, estive nesta Casa, trazida pelo amor e pela dor, fiquei encantada, literalmente hipnotizada, pela plasticidade e pelo espetáculo cênico que vi. O toque dos atabaques entrou em mim no mesmo ritmo do pulsar do meu coração e eu me deixei levar pela magia e força da gira de Ogum. Pensei já ter me surpreendido com tudo naquela noite, até que me foram apresentados os Exús, daí entender porque se diz que, nesta vida se vive e não se vê tudo.
Aquelas Entidades de olhar penetrante, comandadas por Sr. Tranca Ruas das Almas, com suas capas vermelhas e negras, movimentando- se pelo Terreiro, me fizeram lembrar do fascínio, tantas vezes descrito, de Hemingway pelas touradas. Pareciam todos toureiros, numa invisível tourada do bem contra o mal; da cura contra a dor; do alívio contra a demanda.

Mesmo sem conhecer os seus “porquês”, podia-se entender, sem usar a razão, a grande batalha que se travava ali, um combate cheio de amor e “malícia”, para subjugar forças poderosas e invisíveis.
Durante uma semana não consegui pensar em outra coisa que não fosse voltar. E voltei. Para, semana após semana, ser surpreendida. Ora pela simplicidade e sabedoria dos Pretos Velhos, ora pela força e dignidade dos Caboclos. Ainda me estava reservado o encantamento pela elegância dos Ciganos, pela alegria das Crianças, e me deixei laçar pela fantástica retidão dos Boiadeiros.
De tanto ir e vir quis ficar, vestir o branco no corpo e na alma e fazer parte daquele balé pela paz e pela vida.
No primeiro dia na corrente, aquilo que imaginei ser só alegria, se transforma numa mistura de emoções que poucas vezes havia experimentado na vida. Vontade de ir e de ficar, confiança e dúvida, segurança e medo, mas fiquei mesmo assim, ciente de que estava fazendo a escolha certa e dando uma chance, não para a Umbanda, mas para mim mesma.

Sempre gostei de desafios, e este foi dos bons. Tive de aprender a deixar soltar as amarras que me prendiam ao domínio de mim mesma, a não ter sempre o comando absoluto de tudo, e mesmo assim, conciliar consciência e ausência.
E aí, fui cambonear, e outras lições me aguardavam. Lições de dedicação e humildade. Percebi que não bastava respeitar, era preciso servir. Mas não uma servidão cega, e sim um servir onde se compartilha ensinamentos, donde se suga todo proveito possível; até entender que estava servindo a mim mesma. Cada charuto que acendi, cada bebida que servi, cada ponto que lavei, acenderam em mim uma chama que arde, mas não queima; me embriagaram de esperança e lavaram de minha alma toda e qualquer dúvida que ainda resistia em mim.
Toda vez que achei que não me surpreenderia com mais nada, fui pega pela minha própria ingenuidade. E chorei todas as lágrimas de emoção a que tive direito.

Quando vi Sr. Akuan repreender com os olhos cheios de amor, lembrei do que é ser pai ou mãe. Quando vi Sr. Folha Verde emocionar-se em meu casamento entendi que vale a pena, sempre, chorar de emoção; quando levei um imenso puxão de orelhas do Sr. Rompe Mato e, ao me desculpar ouvi dele “eu só brigo com quem gosto” me certifiquei da profundidade de uma verdadeira relação de amizade e afeto.
No dia em foi jogado meu Obi, limpei meu coração de todo e qualquer desejo, e fui presenteada com os ventos da força e da coragem que são soprados por Iansã. E ser filha dela não é fácil. Tenho que dominar a intensidade de meus próprios ventos, para que eles refresquem e limpem, mas não destruam. E a não despejar sobre Ela, a responsabilidade pelos meus próprios vendavais. Eu continuo ventando, assim como ela, mas já consigo transformar raios e tempestades em chuvas mais amenas. Pelo menos venho tentando com afinco. Às vezes consigo, às vezes não, mas tenho contabilizado apenas os êxitos, para não me entristecer com o que não consegui.

E continuo lavando tábuas, uma a uma. Quando esfrego uma tábua, limpo de mim toda mágoa, quando quebro uma vela, quebro minhas resistências, quando afio um ponteiro, torno mais afiado meu desejo de um dia, quem sabe, chegar onde devo ou preciso. Venho me apaixonando constantemente. Deixei-me seduzir pelo humor ácido da minha querida Velha do Cemitério, que me chamava de “metida à sabichona e curiosa”, e que confiou a mim o motivo pelo qual vem servindo a quem precisa, contando-me sua história, que tentei reproduzir da maneira mais fiel possível, para conhecimento de todos. E tive que dominar o ciúme de vê-la camboneada por outra pessoa que não eu. Fui tomada pelo carisma da Cigana Carmen, que ao me emprestar seu espelho, pediu que nele eu visse refletido quem realmente sou. Encantei-me com o comportamento cheio de humor e sabedoria de Chermira, que me ensinou a ver o amor de um modo surpreendente e inesperado; pela devoção de Vovó Maria Conga por Nossa Senhora dos Açores, e que com muita paciência me contou que trançava palha de cana, infinitas vezes, até a raiva passar (como seria bom se aprendêssemos a trançar nossa própria raiva , neste cativeiro em que vivemos!).

Convivi com a força dócil do Sr. Vira Mundo, e com a magia encantadora de Mama Rosa, cujo perfume pude sentir durante dias, dando a certeza de sua presença. Fui tomada pela “pontaria certeira” das cartas de Ramirez, e compartilhei a sua felicidade ao reconhecer entre os que ali estavam, a sua filha de carne; e pela a alegria, por vezes quase infantil de Vovó Catarina, (só não aprendi, ainda, a acender cachimbos, mas eu chego lá) , isso, sem falar na sua vitalidade, deixando-me exausta mas feliz, de tanto andar atrás dela.
Presenciei Tio Antônio aborrecido e desconfortável por beber uma bebida que não era a dele, mas mesmo assim, ser gentil com quem esteve em sua frente. Até que, ao cambonear Caboclo Boiadeiro, eu pude ver, com olhos que nem sabia ter; seu rosto de homem agreste, magro e moreno, se formar por sobre as feições loiras do seu cavalo. Minha emoção foi igual à dele, choramos os dois, e ouvi dele que a emoção é um dos ingredientes indispensáveis à gira de Boiadeiros, que só com esse sentimento conseguimos tornar concreta e possível a força destes “homens” tão ligados a energia que vem da terra. Disse-me também, que por vezes é mais fácil tanger gado que homens, que estes animais de tamanho e força incríveis, tem a docilidade de se deixar conduzir, que nós não temos, mesmo quando precisamos ou pedimos.

Aprendi a compreender o peso da dor do Caboclo Guará, ao ver sua tribo dizimada e seus filhos mortos por ele mesmo, na tentativa de solver com sangue, sua incapacidade de escolher a hora certa de guerrear (quantas vezes nós mesmos não adiamos nossas batalhas e, quando por fim, nos decidimos, lutamos a luta certa na hora errada). Hoje respeito seu silêncio cheio de dor e arrependimento, e sei que o simples fato dele estar ali já nos ajuda, sem que precise dizer uma palavra sequer.
E o que dizer do Sr. Ogum Matinata? E da minha satisfação em conseguir romper a sua resistência inicial ao cambone novo? (E aprendi com a Uca a não ter ciúmes dos novos cambones e a quem agradeço por todas as vezes que recorri a ela e fui ajudada). Sr. Matinata, agora, me conduz pelos caminhos da sua sabedoria, pelos segredos da magia do seu ponto, e pelo modo quando, ao nos chegar pelas costas nos faz escancarar o coração.

“Quem vê cara, não vê coração, filha!”, me disse ele. E eu fico ali, segurando seu coité, bebendo dos ensinamentos que ele, no seu modo sisudo de ser, me dá com tanta boa vontade. Sr. Táta Caveira mereceria um capítulo à parte. E ai de quem não andar na linha! Inclusive eu! Ele exige na mesma proporção que entrega. Diz todos os palavrões que eu mesma tenho vontade de dizer, e por vezes digo. Fica indignado com a falta de vontade e força das pessoas, mas os acode sempre. Fica bravo, mas protege; xinga, mas ajuda; reclama, mas está sempre lá, às vezes de bom, às vezes de mau humor, como todos nós, e recebe a todos com aquele olhar maroto de “lá vem mais um...”. Conversa com Sr. Morcego,com a intimidade de velhos amigos, ao mesmo tempo em que me cobre com sua capa, sempre que pressente que eu preciso de “colo” e diz que só eu mesma para gostar de “colo” de Exu. E eu gosto!

E assim me é permitido ir transitando entre essas Entidades maravilhosas, entendendo que estão mais próximas de nós do que podemos supor, como disse a Velha do Cemitério, quando choraminguei que estava com saudade dela: “Só temos saudade de quem está longe, filha!”.
Só não entende quem não quiser! E vou continuar lavando tábuas, acendendo charutos e velas, servindo bebidas, pois é o mínimo que posso dar, pelo muito que tenho recebido.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Reflexões sobre o Brasil e a Umbanda - 1º Parte


Da atitude de Zélio de Moraes, em 15 de novembro de 1908, que, incorporado, declarou estar "faltando uma flor" na mesa da Federação Espírita de Niterói, surgiu um dos pontos cantados mais belos da umbanda:

Surgiu no jardim mais uma flor, 
Mamãe Oxum trazendo paz e amor, 
Que vai crescendo, por este imenso Brasil.
Bandeira branca de Oxalá, força do Além, 
Mãe caridosa que ao mundo deseja o bem...
Vai sempre em frente, ó minha umbanda querida!
Leva a doçura da vida para aqueles que não têm.

Assim foi delineada a doutrina que se conhece por umbanda, despida de preconceitos racistas, pela sua origem africana, no sentido de agrupar em suas atividades escravos, senhores, pretos, brancos, nativos, exilados, imigrantes, descendentes, e todos os povos do mundo, sediados em solo brasileiro.

Ramatís, A Missão do Espiritismo, 1967.

Brasil Pátria do Evangelho, Coração do Mundo
FCX/Humberto de Campos

O inundo político e social do Ocidente encontra-se exausto.
Desde  as pregações de Pedro, o  eremita, até a morte do Rei Luís IX,  diante de Túnis, acontecimento que colocara um dos derradeiros marcos nas  guerras das Cruzadas, as sombras da idade medieval confundiram as lições do Evangelho, ensanguentando todas as bandeiras do mundo cristão. Foi após essa época, no último quartel do século XIV, que o Senhor desejou realizar uma de suas visitas periódicas à Terra, a fim de observar os progressos de sua doutrina e de seus exemplos no coração dos homens.
Anjos e Tronos lhe formavam a corte maravilhosa. Dos céus à Terra, foi colocado outro símbolo da escada infinita de Jacó, formado de flores e de  estrelas cariciosas, por onde o Cordeiro de Deus transpôs as imensas distâncias,  clarificando os caminhos cheios de treva. Mas, se Jesus vinha do coração  luminoso das esferas superiores, trazendo nos olhos misericordiosos a visão  dos seus impérios resplandecentes e na alma profunda o ritmo harmonioso dos astros, o planeta terreno lhe apresentava ainda aquelas mesmas veredas  escuras, cheias da lama da impenitência e do orgulho das criaturas humanas, e  repletas dos espinhos da ingratidão e do egoísmo. Embalde seus olhos  compassivos procuraram o ninho doce do seu Evangelho; em vão procurou o  Senhor os remanescentes da obra de um de seus últimos enviados à face do  orbe terrestre. No coração da Úmbria haviam cessado os cânticos de amor e de  fraternidade cristã. De Francisco de Assis só haviam ficado as tradições de  carinho e de bondade; os pecados do mundo, como novos lobos de Gúbio,  haviam descido outra vez das selvas misteriosas das iniquidades  humanas,  roubando às criaturas a paz e aniquilando-lhes a vida.
Helil  — disse a voz suave e meiga do Mestre a um dos seus mensageiros, encarregado dos problemas sociológicos da Terra  —, meu  coração se enche de profunda amargura, vendo a incompreensão dos homens,  no que se refere às lições do meu Evangelho. Por toda parte é a luta fratricida,  como polvo de infinitos tentáculos, a destruir todas as esperanças; recomendeilhes que se amassem como irmãos,  e vejo-os em movimentos impetuosos,  aniquilando-se uns aos outros como Cains desvairados.
— Todavia — replicou o emissário solícito, como se desejasse desfazer  a impressão dolorosa e amarga do Mestre  —, esses movimentos, Senhor, intensificaram as relações  dos povos da Terra, aproximando o Oriente e o  Ocidente, para aprenderem a lição da solidariedade nessas experiências
penosas; novas utilidades da vida foram descobertas; o comércio progrediu  além de todas as fronteiras, reunindo as pátrias do orbe. Sobretudo, devemos  considerar que os príncipes cristãos, empreendendo as iniciativas daquela  natureza, guardavam a nobre intenção de velar pela paisagem deliciosa dos  lugares santos.
— Mas — retornou tristemente a voz compassiva do Cordeiro —, qual  o lugar da Terra que não é santo? Em todas as partes do mundo, por mais  recônditas que sejam, paira a bênção de Deus, convertida na luz e no pão de  todas as criaturas. Era preferível que Saladino guardasse, para sempre, todos  os poderes temporais na Palestina, a que caísse um só dos fios de cabelo de um  soldado, numa guerra incompreensível por minha causa, que, em todos os  tempos, deve ser a do amor e da fraternidade universal. E, como se a sua vista devassasse todos os mistérios do porvir,  continuou:
— Infelizmente, não vejo senão o caminho do sofrimento para  modificar tão desoladora situação. Aos feudos de agora, seguir-se-ão as coroas  poderosas e, depois dessa concentração de autoridade e de poder, serão os  embates da ambição e a carnificina da inveja e da felonia, pelo predomínio do mais forte. A amargura divina empolgara toda a formosa assembleia de querubins  e arcanjos. Foi quando Helil, para renovar a impressão ambiente, dirigiu-se a  Jesus com brandura e humildade:
— Senhor, se esses povos infelizes, que procuram na grandeza material uma felicidade impossível, marcham irremediavelmente para os grandes  infortúnios coletivos, visitemos os continentes ignorados, onde espíritos jovens  e simples aguardam a semente de uma vida nova. Nessas terras, para além dos  grandes oceanos, poderíeis instalar o pensamento cristão, dentro das doutrinas  do amor e da liberdade.
E a caravana fulgurante, deixando um rastro de luz na imensidade dos espaços, encaminhou-se ao continente que seria, mais tarde, o mundo  americano.
O Senhor abençoou aquelas matas virgens e misteriosas. Enquanto as  aves lhe homenageavam a inefável presença com seus cantares harmoniosos, as  flores se inclinavam nas árvores ciclópicas, aromatizando-lhe as eterizadas  sendas. O perfume do mar casava-se ao oxigênio agreste da selva bravia,  impregnando todas as coisas de um elemento de força desconhecida. No solo,  eram os silvícolas humildes e simples, aguardando uma era nova, com o seu  largo potencial de energia e bondade.
Cheio de esperanças, emociona-se o coração do Mestre, contemplando  a beleza do sublimado espetáculo.
— Helil — pergunta ele —, onde fica, nestas terras novas, o recanto planetário do qual se enxerga, no infinito, o símbolo da redenção humana?
— Esse lugar de doces encantos, Mestre, de onde se veem, no mundo,  as homenagens dos céus aos vossos martírios na Terra, fica mais para o sul. E, quando no seio da paisagem repleta de aromas e de melodias, contemplavam as almas santificadas dos orbes felizes, na presença do Cordeiro,  as maravilhas daquela terra nova, que seria mais tarde o Brasil, desenhou-se no firmamento, formado de estrelas rutilantes, no jardim das constelações de  Deus, o mais imponente de todos os símbolos.
Mãos erguidas para o Alto, como se invocasse a bênção de seu Pai para todos os elementos daquele solo extraordinário e opulento, exclama então Jesus:
— Para esta terra maravilhosa e bendita será transplantada a árvore  do meu Evangelho de piedade e de amor. No seu solo dadivoso e fertilíssimo,  todos os povos da Terra aprenderão a lei da fraternidade universal. Sob estes  céus serão entoados os hosanas mais ternos à misericórdia do Pai Celestial. Tu, Helil, te corporificarás na Terra, no seio do povo mais pobre e mais trabalhador  do Ocidente; instituirás um roteiro de coragem, para que sejam transpostas as  imensidades desses oceanos perigosos e solitários, que separam o velho do  novo mundo. Instalaremos aqui uma tenda de trabalho para a nação mais
humilde da Europa, glorificando os seus esforços na oficina de Deus.
Aproveitaremos o elemento simples  de bondade, o coração fraternal dos  habitantes destas terras novas, e, mais tarde, ordenarei a reencarnação de  muitos Espíritos já purificados no sentimento da humildade e da mansidão,  entre as raças oprimidas e sofredoras das regiões africanas, para formarmos o pedestal de solidariedade do povo fraterno que aqui florescerá, no futuro, a fim  de exaltar o meu Evangelho, nos séculos gloriosos do porvir. Aqui, Helil, sob a luz misericordiosa das estrelas da cruz, ficará localizado o coração do mundo!
(...)

Peço que reflita neste pequeno trecho do livro, principalmente nas áreas grifadas.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

REFORMA ÍNTIMA OU TRANSFORMAÇÃO INTERIOR?

Fonte: http://encantosdanaturezadivina.blogspot.com.br/2011/02/reforma-intima-ou-transformacao.html

Na reforma íntima,   você pinta o muro.

Na transformação interior,   você constrói outro em seu lugar.

Na reforma íntima,   você encera o assoalho.

Na transformação interior,   você coloca um piso novo.

Na reforma íntima,   você empurra a sujeira para debaixo do tapete.

Na transformação interior,   a sujeira e o tapete vão para o lixo.

Na reforma íntima,   você muda os móveis de lugar.

Na transformação interior,   você redecora todo o ambiente.

Na reforma íntima,   você tapa a goteira.

Na transformação interior,   você troca o telhado todo.

Na reforma íntima,   você cuida dos detalhes.

Na transformação interior,   você renova os alicerces.

Na reforma íntima,   você escolhe as palavras.

Na transformação interior,   as palavras te escolhem.

Na reforma íntima,   você é politicamente correto.

Na transformação interior,   você é ético.

Na reforma íntima,   você segue a cartilha dos outros.

Na transformação interior,   você mesmo a escreve
Na reforma íntima,   você perfuma sua alma.


Na transformação interior, você se lava na cachoeira.
Agora cabe a você, meu irmão dono de seu livre arbítrio, decidir por si mesmo o que é melhor para sua evolução: Reformar-se ou Transformar-se.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Umbanda em Transformação

Por
Julio Isao e Carla Deri


O segundo ciclo, que deve durar mais 70 anos, com início em meados de 1979, tem como característica o esvaziamento da religião, um sentimento de negação, de renegação das próprias origens. Os poucos que ficaram o fizeram por amor, por missão, por sentir verdadeiramente o chamado dos Pais e Mães Orixás. Mas algo começou a mudar, algo começou a se estruturar.
Quando falamos da nossa religião, a Umbanda, não nos damos conta de que temos pouco mais de 104 anos de existência, nascemos de forma natural, crescemos e nos difundimos de forma muito rápida, sem muita estrutura, sem muita base. Podemos assim dizer que este foi o primeiro ciclo da Umbanda, que durou aproximadamente 70 anos, terminando em 1978.
A Umbanda começou a ter expressividade na literatura nacional. Alguns poucos títulos começaram a se multiplicar. Em 1980 é publicado o livro “O Cavaleiro da Estrela Guia”, psicografado por Rubens Sarraceni, e desde então sua produção literária, através da Mediunidade, não tem cessado.  Hoje vemos que vários outros autores estão se destacando e auxiliando na produção de conhecimentos de base e estruturais para a saúde de nossa Religião.
Hoje vivenciamos um momento único da Umbanda. Podemos abertamente falar de nossas práticas, explicar nossos métodos, expor nossas técnicas. Não existe mais alegação de ignorância por falta de informação, existe a busca pelo entendimento.
Existem momentos de partilha entre os nossos Guias e nossos Médiuns onde cada um é corresponsável pelo trabalho que desenvolve e executa, criados pela construção incansável dos “por quês”, “para que”, “quandos”, “como” e “onde”.
As verdades são compartilhadas, cooperadas. Os Dirigentes se permitem vivenciar  experiências em conjunto, muitos muros já foram quebrados e as pontes estão sendo construídas.
Isto significa que cada dirigente irá manter sua tradição, suas raízes, mas também irão trabalhar em cooperação, em mútuo sentimento de irmandade, de união e de fraternidade.
Esta reaproximação com a verdadeira “família espiritual” compreende o entendimento dos processos que os Guias utilizam, dos fundamentos de nossas casas, da ordenança energomagnética de nossos congás, enfim, de toda a dinâmica de nossos trabalhos. Tornando-nos cooperadores conscientes da missão maior da Umbanda, que é o “Espírito para a Caridade”, conforme ensinou o nosso querido Pai Caboclo das Sete Encruzilhadas.
Por isso lhe pedimos amigo, se permita vivenciar, conhecer, partilhar os aprendizados que podemos ofertar pelo Instituto Cultural Umbanda Para Todos. Este instituto é em nossa cidade a resposta da necessidade de união, fraternidade, esperança, força, aprendizado e luta de dirigentes, sacerdotes e irmãos em Umbanda.
Vamos pensar nisso.

A fábula do porco-espinho


Durante a era glacial muitos animais morriam por causa do frio. Os porcos-espinhos, percebendo a situação, resolveram se juntar em grupos, assim se agasalhavam e se protegiam mutuamente. Mas os espinhos de cada um feriam os companheiros mais próximos, justamente os que ofereciam mais calor. Por isso, decidiram se afastar uns dos outros e voltaram a morrer congelados. Então precisavam fazer uma escolha: ou desapareceriam da Terra ou aceitavam os espinhos dos companheiros. Com sabedoria, decidiram voltar a ficar juntos. Aprenderam, assim, a conviver com as pequenas feridas que a relação com uma pessoa muito próxima poderia causar, já que o mais importante era o calor do outro. E assim sobreviveram...                                  
(Autor desconhecido)