segunda-feira, 15 de julho de 2013

SIMPLESMENTE RESPIRAR


Respirar talvez seja a atividade que mais praticamos, e mesmo que estejamos inteiramente inconscientes, respiramos cerca de 24 mil vezes por dia.
Mesmo que não prestemos atenção ao processo dinâmico da respiração, o inalar, o exalar e o intervalo entre esses dois acontecem, automaticamente. Negligenciados, desordenados, mas acontecem.
Entrecortados, se temos medo; agitados, se temos raiva; imperceptíveis, se temos depressão; quase ausentes se temos angústia... Talvez porque a respiração está bem debaixo do nosso nariz, perdemos completamente a consciência dela.
Basicamente, um dos aspectos mais importantes da meditação é a consciência do processo de respirar. Como a respiração é o canal da consciência, ela falacom os dois hemisférios cerebrais, equilibrando a mente.
Em relação ao respirar, ao contrário do que muitos yogues ensinam, o importante é a naturalidade. Respirar corretamente é mais um processo de liberação dos próprios padrões e obstáculos pessoais, uma espécie de desconstrução de tudo que se aprendeu e a volta ao natural. A técnica correta écomo-não-fazer...
Aprender a respirar bem é uma desconstrução, onde você aprende a identificar as coisas que vem fazendo há muito tempo e que impedem a respiração natural. Quando você aprende a identificar seus padrões de segurar a barra, você começa o processo de liberação. Dentre esses padrões insidiosos, estão a respiração invertida, a respiração paradoxal, a hiperventilação, a garganta presa, a respiração pela boca, entre muitos. Desmantelamos padrões patológicos e reinstalamos hábitos saudáveis, como a respiração diafragmática, respirar através de alguns órgãos, respirar pelas costas, exalar lentamente, e respiração relaxada.
Nem vou falar do cigarro, porque está claro que o fumante, fuma por ansiedade, exatamente para fugir da consciência da respiração. É impossível o ato de fumar conscientemente – pareceria tão estúpido que morreríamos de rir na primeira tragada.
Outra coisa importante na meditação, é criar um espaço interior e exterior para se meditar. O espaço interior nós criamos através da nossa motivação e atitude. Dar um tempo para nós mesmos. Gerar auto-estima e respeito pelo nosso tempo e atividade. Ter consciência em todos os momentos de nossa vida.
Se você está construindo alguma coisa, mantenha a mente presente a cada movimento do martelo. Não deixe que os pensamentos se interponham. Ao escrever, mantenha a mente junto de cada movimento da caneta ou do toque das teclas do computador. Não deixe que a mente fique saltando de um lado para outro. Seja o que for que estiver fazendo, relaxe a mente.
Quando você observa crianças brincando num parque, você não se fixa na atividade delas, dizendo elas estão brincando, elas estão brincando, elas estão brincando. Há porém, um reconhecimento desse fato. Você não precisa dizer interiormente relaxando a mente, relaxando a mente, relaxando a mente. Simplesmente relaxe!
O espaço exterior para nossa meditação diária pode ser criado dentro do nosso quarto de dormir, num canto da casa onde temos privacidade, ou mesmo separa, quando podemos, um quarto especial para isso. É importante a total privacidade, e saber que mesmo por dez minutos, ninguém vai perturbar você. Acender uma vela e um incenso discreto, ajuda a criar o clima do ritual. Sempre que acendemos uma vela e incenso, estamos repetindo um gesto que já foi executado milhões de vezes em todo o mundo, por muitos seres que vieram antes de nós. Um gesto que está presente em todas as religiões e tradições do mundo.
Recriamos um mito, neste momento. O Mito da busca, da entrega, do eterno retorno. E fechamos os olhos e respiramos.

SIMPLESMENTE RESPIRAMOS

(Publicado na Revista Planeta – Meditação no 2)

Nenhum comentário:

Postar um comentário