terça-feira, 5 de novembro de 2013

Giras e Rituais na Umbanda


Gira na Umbanda diferencia-se de uma tenda a outra, justamente por não haver um órgão centralizador, que a nível nacional ou estadual, dite normas e conceitos sobre a religião ou possa proibir os abusos. Por isso cada terreiro segue um ritual próprio, o que faz a diferenciação da qualidade de um para outro. Entretanto, a base de todo terreiro tem que seguir o principio básico do bom senso, da honestidade e do desinteresse material, além de pregar, é claro, o ritual básico transmitido através dos anos pelos praticantes. Com este tópico para esclarecer, transmitimos, sem nenhum segredo o ritual que nós praticamos.
Muito do que colocamos aqui, refere-se a umbanda tradicional.

Gira na Umbanda

No sentido de trabalho significa reunião de vários espíritos de uma mesma categoria. A gira pode ser festiva, de trabalho, de treinamento, fechada ou aberta e especifica. Antes da gira propriamente dita, deve ser feita uma “abertura dos trabalhos” para que o ambiente seja devidamente preparado. Apresentaremos um modelo de abertura de gira em capítulo a parte.
Festiva ¬ é aquela em que se presta uma homenagem ao Orixá/Entidade do dia. Nela pode-se puxar outras vibrações, separadamente;
De trabalho ¬ são giras realizadas regularmente para o atendimento de consulentes;
De treinamento ¬ pode ser realizada junto com a gira de trabalho ou em dia especifico. Nela se processa o desenvolvimento mediúnico dos iniciantes que serão trabalhados pelas entidades incorporadas ou por médiuns feitos, através da vibração de seus guias, sem incorporação;
Aberta ¬ é uma gira onde se toca para duas ou mais categorias de espíritos. Nela podem trabalhar, ao mesmo tempo, Caboclos, Pretos Velhos, Ibeijada, etc. Cada médium trabalha com a entidade que desejar se manifestar.
Fechada ¬ nessas giras trabalha-se com uma “linha” de cada vez. Somos mais favoráveis a este tipo de gira por não haver cruzamento de energia, assim existindo melhor aproveitamento dos fluidos por parte dos médiuns;
Neste caso, chama-se uma única linha por vez, espera-se encerrar seu trabalho, e só depois que ela tiver deixado a gira, chama-se outra linha. Todos os médiuns trabalham com Caboclos, depois com Baianos, por exemplo.
Especifica ¬ são as giras de Abaluaê, Oriente, Ibeijada, Exús e Pomba Gira. No caso destas giras são necessários certos procedimentos para se isolar o trabalho. Isso pode ser feito com preces, cânticos especiais ou até mesmo em dias especiais após imantações.
A gira de Exú é uma gira difícil de ser trabalhada, pois muitos deturpam a sua finalidade e o modo de trabalho de tais entidades. A falta de conhecimento leva muitos a acreditarem que se trata do “diabo”. Mal sabem que o diabo é o mal, o orgulho, a vaidade, a discriminação e a preguiça que alguns carregam consigo.
Deve-se cantar 7 curimbas para Ogum que sempre abre e fecha esta gira – não é obrigatória a incorporação de Ogum. A energia de Ogum é responsável pelo equilíbrio dos espíritos desta faixa de evolução. Os Exús e Pombas Giras não precisam usar bebidas a não ser para trabalhos específicos e a quantidade é absurdamente pequena. Eles recebem sua libação na tronqueira.
giras e rituais na umbanda
Os Exús e Pombas Giras são entidades evoluídas, embora estejam na base do desenvolvimento espiritual, por isso não aceitamos, de forma alguma, aqueles que fazem gestos obscenos, falam palavrões e dão gargalhadas espalhafatosas ou mesmo que utilizam roupas extravagantes já que todas as outras entidades trabalham com os médiuns vestidos de branco. Isso tudo é teatro, brilho, fantasia não tem nenhuma importância espiritual. Tais entidades são de muito respeito e muita luz, porém humildes e muito próximas da consciência terrena, deixam seus médiuns a vontade até mesmo em suas “palhaçadas”. Médium evoluído, Exú em evolução, valendo também o inverso.
Estas entidades defendem nosso campo anímico (ligação matéria/espírito) para que Oxalá possa continuar conveccionando a vida. Vemos assim que elas têm uma importante função no plano espiritual.
A gira de Ibeijada também é uma das giras difíceis de um terreiro. Após a “abertura” normal da gira e com todos os fundamentos preparados para este trabalho puxa-se a falange das crianças que, por acaso, não são malcriadas apesar de serem alegres e brincalhonas. Muitos médiuns se aproveitam de tal situação e fazem arruaça, achando que com isso tornam autentica a sua incorporação.
Os Erês ou Cosmes (homenagem a São Cosme, entidade protetora das crianças segundo a Igreja Católica) podem brincar sem desrespeitar os princípios espirituais. Essas entidades são a sublimação das forças cósmicas e jamais devemos desafiá-las pensando que por “serem crianças” não tem muita força. A devoção a essa vibração pode nos salvar de situações difíceis.
Deve-se, sempre após uma gira de Ibeijada, chamar outra entidade para encerrar os trabalhos, pois as “crianças” limpam os consulentes e fazem os trabalhos, mas não descarregam a negatividade.
A gira de Abaluaê deve ser isolada das demais, através de preces específicas que devem ser rezadas antes e depois desta gira. Nessas preces deve-se buscar o fortalecimento mental dos médiuns da corrente e projetar energia equilibrando-os para conseguirem assimilar esta vibração que, por ser uma energia de sublimação (Nanã = reação, Omulú = ação) chega na terra de forma triangular , ocupando um espaço maior que as demais vibrações, portanto formando um campo magnético amplo em que o médium pode não conseguir permanecer.
A gira do Oriente deve começar a ser preparada uma semana antes do dia propriamente dito. Ela deve ser aberta pelo Zelador com preces e, durante a semana, devem ser invocadas todas as entidades que irão trabalhar, mantendo-se iluminados os respectivos pontos de firmeza. No dia da gira só deverão participar os médiuns que se mantiveram em harmonia com os fundamentos do terreiro naquela semana. Nestas giras geralmente recebe-se espíritos de muita sabedoria que vem a terra para nos ensinar ou passar mensagens importantes. Não devemos confundir esta gira com a festa dos ciganos. Agira do Oriente trabalha com os espíritos mentores de diversas crenças e culturas orientais.

Gira Bloqueada

Assim chamamos a dificuldade que o médium de incorporação parcial tem de penetrar na faixa vibratória de certos consulentes. Quando isso ocorre o médium não está, necessariamente, falhando ou sem a sua entidade.
Os motivos podem ser:
a) consulente carregado de energia negativa. O consulente fica envolvido dentro de uma redoma.
b) consulente que procura a tenda por simples curiosidade ou para testar as entidades.
c) o consulente é médium ou mesmo Zelador. Já tem sua “coroa” feita e suas próprias entidades fecham a sua faixa vibratória para resguardá-lo.
Nos casos “a” e “b” o médium não deve se deixar perturbar e também não deve tentar romper o bloqueio, pois além de lhe causar grande perda de ectoplasma isso pode fazer com que caia em descrédito. O correto é recomendar ao consulente uma limpeza espiritual através de banhos de descarrego, imantações e preces e pedir-lhe que retorne para nova consulta.
É importante salientar que as giras de passe não são “consultório sentimental” ou lugar de “conversa fiada, muito menos fábrica de milagres. As pessoas devem ser orientadas para que não desgastem os médiuns contando toda a sua vida. A entidade irá perguntar somente o necessário, não ficará tentando fazer adivinhações.
O Consulente deve ser instruído a manter-se concentrado em seus objetivos para que toda a força do terreiro seja empenhada em fazer a ciclagem espiritual do mesmo. É desta forma que se consegue o que se procura e não com trabalhos direcionados a terceiros. Ninguém tem o direito de interferir no caminho espiritual de outra pessoa a não ser que esta peça. Não devemos esquecer do “livre arbítrio” e principalmente de que “nos tornamos responsáveis por tudo que cativamos”.
No caso “c” deve-se somente saudar a “coroa” do consulente e realizar o passe.

Nenhum comentário:

Postar um comentário