quinta-feira, 16 de agosto de 2012

O corpo em equilíbrio e a nossa busca de felicidade



Outro dia li num livro do Dalai Lama a seguinte frase: “Creio que todo ser humano tem 
o desejo inato de felicidade e não quer sofrer”. 
Dalai Lama concluiu o pensamento, dizendo 
que todo ser humano tem o potencial para ter 
paz e atingir sua autêntica felicidade, como um 
propósito maior em sua existência.
Como terapeuta corporal em meu trabalho 
de cuidado, busco compreender 
essa condição em meus massageados, assim como em minha 
jornada pessoal; buscador dessa 
felicidade que sou. Penso que, 
se tivermos a capacidade de 
observar, perceberemos que na 
rua, na escola, no trabalho ou 
no lazer, sempre encontramos 
pessoas em busca dessa felicidade, com esse
propósito final em suas ações 
diárias. Não nos cabe julgar as 
escolhas de cada um e o que 
desejam como felicidade para si.
Cabe, talvez, nos reconhecermos na loucura 
comum, no devaneio do outro, na sensatez ou 
insensatez alheia ou nossa, na força despendida 
por todos nós nessa busca de ser feliz. Sim, é 
legítima qualquer história, qualquer anseio é
legítimo. Qualquer busca ou sonho. Legítimos.
O que acontece é que nem sempre estamos 
preparados para as frustrações, tristezas e dores 
advindas dessa corrida. Muitas vezes nos
deixamos, esquecemos de cuidar de nós mesmos e carregamos tensões, vivemos nos arrastando, acumulamos emoções vulneráveis ao 
desequilíbrio do nosso organismo ao tentar, a 
qualquer custo, atingirmos nosso objetivo final: 
a felicidade. Nosso sucesso, nosso dinheiro, 
nossas conquistas são computados, e sempre 
entendemos o não cumprimento de algumas 
metas como fracasso.
O que poderíamos entender como processo 
desse caminho, se transforma em dor ao constatar que falhamos. O que poderíamos acumular como fonte de experiência a gerar sabedoria, 
entendemos como derrota. Assim, a busca pela
felicidade, transforma-se em martírio e pena. 
É preciso “fazer do sofrimento o seu remé-
dio” como diz o Koan Zen. Encare-o como um 
mestre que o universo lhe deu de presente e o 
aceite com coragem.
Muitos de nós vivemos assim: tristes na busca pela felicidade. E as costas pesam, o pesco-
ço fica rígido, a cabeça esquenta, a respiração 
encurta, os músculos se contraem, os nódulos 
brotam, a pele carrega intolerância, o amor
se confunde com o medo, a felicidade com 
desespero, o sono desajeitado não permite bons 
sonhos, esquecemos de beber água e de silenciar, desistimos de sorrir e de relaxar.
Sobrecarregamos nosso corpo de emoções 
e pedimos para que ele seja forte, que nos dê 
suporte, que nos suporte, que 
sobreviva para além de nós 
mesmos, que seja nosso mártir 
para a conquista da nossa felicidade. Um herói. Mas o
corpo não está fora de nós, o 
corpo somos nós e ele responde aos nossos anseios, o corpo 
compreende nossas mensagens 
e responde em sua profunda 
sabedoria que seria melhor que 
trabalhássemos em parceria 
com ele, que compartilhássemos cuidado e compreensão, 
que respeitássemos nossa voz interior, que fôssemos mais lentos, que pudéssemos rir de nós 
mesmos, que nos enamorássemos do humor, 
enfim, que fossemos mais pacientes, tolerantes, 
tranquilos... Que soubéssemos ler a sua poesia. 
Que desejássemos da vida apenas o que ela é: 
fluxo contínuo yin/yang, luz e sombra, som e 
silêncio, movimento e repouso...
“Sejamos felizes”, o corpo nos diz, mesmo 
com toda adversidade, mesmo com toda desilusão. É isso que podemos nos proporcionar para 
encontrar a felicidade de que fala o Dalai lama. 
Cuidar de nós mesmos e cuidar dos outros.
Sermos compassivos e não passivos diante 
da vida. Há muitas sabedorias e caminhos que 
podemos trilhar: a psicoterapia, a meditação, a 
yoga e as terapias alternativas. Por exemplo, no 
meu caso, as massagens terapêuticas com base 
no conhecimento milenar da medicina chinesa, 
entre outras tradições.
O importante é a busca serena da felicidade, do autoconhecimento sem a ansiedade da 
recompensa, nem julgamentos. O equilíbrio do 
Qi, ou Prana, ou Baraka, a nossa energia vital. 
O corpo agradece e a vida flui.
Marcelo Maluf (escritor)    

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