Outro dia li num livro do Dalai Lama a seguinte frase: “Creio que todo ser humano tem
o desejo inato de felicidade e não quer sofrer”.
Dalai Lama concluiu o pensamento, dizendo
que todo ser humano tem o potencial para ter
paz e atingir sua autêntica felicidade, como um
propósito maior em sua existência.
Como terapeuta corporal em meu trabalho
de cuidado, busco compreender
essa condição em meus massageados, assim como em minha
jornada pessoal; buscador dessa
felicidade que sou. Penso que,
se tivermos a capacidade de
observar, perceberemos que na
rua, na escola, no trabalho ou
no lazer, sempre encontramos
pessoas em busca dessa felicidade, com esse
propósito final em suas ações
diárias. Não nos cabe julgar as
escolhas de cada um e o que
desejam como felicidade para si.
Cabe, talvez, nos reconhecermos na loucura
comum, no devaneio do outro, na sensatez ou
insensatez alheia ou nossa, na força despendida
por todos nós nessa busca de ser feliz. Sim, é
legítima qualquer história, qualquer anseio é
legítimo. Qualquer busca ou sonho. Legítimos.
O que acontece é que nem sempre estamos
preparados para as frustrações, tristezas e dores
advindas dessa corrida. Muitas vezes nos
deixamos, esquecemos de cuidar de nós mesmos e carregamos tensões, vivemos nos arrastando, acumulamos emoções vulneráveis ao
desequilíbrio do nosso organismo ao tentar, a
qualquer custo, atingirmos nosso objetivo final:
a felicidade. Nosso sucesso, nosso dinheiro,
nossas conquistas são computados, e sempre
entendemos o não cumprimento de algumas
metas como fracasso.
O que poderíamos entender como processo
desse caminho, se transforma em dor ao constatar que falhamos. O que poderíamos acumular como fonte de experiência a gerar sabedoria,
entendemos como derrota. Assim, a busca pela
felicidade, transforma-se em martírio e pena.
É preciso “fazer do sofrimento o seu remé-
dio” como diz o Koan Zen. Encare-o como um
mestre que o universo lhe deu de presente e o
aceite com coragem.
Muitos de nós vivemos assim: tristes na busca pela felicidade. E as costas pesam, o pesco-
ço fica rígido, a cabeça esquenta, a respiração
encurta, os músculos se contraem, os nódulos
brotam, a pele carrega intolerância, o amor
se confunde com o medo, a felicidade com
desespero, o sono desajeitado não permite bons
sonhos, esquecemos de beber água e de silenciar, desistimos de sorrir e de relaxar.
Sobrecarregamos nosso corpo de emoções
e pedimos para que ele seja forte, que nos dê
suporte, que nos suporte, que
sobreviva para além de nós
mesmos, que seja nosso mártir
para a conquista da nossa felicidade. Um herói. Mas o
corpo não está fora de nós, o
corpo somos nós e ele responde aos nossos anseios, o corpo
compreende nossas mensagens
e responde em sua profunda
sabedoria que seria melhor que
trabalhássemos em parceria
com ele, que compartilhássemos cuidado e compreensão,
que respeitássemos nossa voz interior, que fôssemos mais lentos, que pudéssemos rir de nós
mesmos, que nos enamorássemos do humor,
enfim, que fossemos mais pacientes, tolerantes,
tranquilos... Que soubéssemos ler a sua poesia.
Que desejássemos da vida apenas o que ela é:
fluxo contínuo yin/yang, luz e sombra, som e
silêncio, movimento e repouso...
“Sejamos felizes”, o corpo nos diz, mesmo
com toda adversidade, mesmo com toda desilusão. É isso que podemos nos proporcionar para
encontrar a felicidade de que fala o Dalai lama.
Cuidar de nós mesmos e cuidar dos outros.
Sermos compassivos e não passivos diante
da vida. Há muitas sabedorias e caminhos que
podemos trilhar: a psicoterapia, a meditação, a
yoga e as terapias alternativas. Por exemplo, no
meu caso, as massagens terapêuticas com base
no conhecimento milenar da medicina chinesa,
entre outras tradições.
O importante é a busca serena da felicidade, do autoconhecimento sem a ansiedade da
recompensa, nem julgamentos. O equilíbrio do
Qi, ou Prana, ou Baraka, a nossa energia vital.
O corpo agradece e a vida flui.
Marcelo Maluf (escritor)
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