As manifestações do amor são tão
infinitas, desde as mais primárias até às mais elevadas, que fogem ao nosso
entendimento. Na verdade sabemos teorizar o amor, mas não o conhecemos em sua
plenitude. Por isso comecemos pela afetividade, como valor principal, porque se
nos habituarmos a vivenciá-la, estaremos dando passos importantes para o
desenvolvimento do amor mais pleno em nós.
Sabemos que nossas palavras,
sentimentos e ações são fortemente influenciados pelos nossos estados de espírito,
pelo nosso “clima interior”. Assim, cuidando desse “clima”, estaremos
facilitando sobremaneira a vivência de atitudes mais condizentes com o
conhecimento espiritual que já alcançamos e com o nosso momento evolutivo.
Sugerimos que pare por instantes esta
leitura para imaginar algumas situações nas quais um estado de espírito afetivo
pode induzir a atitudes mais condizentes com os valores ensinados pelo
Espiritismo.
***
Num seminário sobre perdão e
auto-perdão o médium e orador espírita Divaldo Franco disse:
“Dois físicos quânticos de renome
estabeleceram que quando nós amamos, produzimos moléculas, micro-partículas que
podem ser semelhantes a fótons e vitalizam-nos a corrente sanguínea, e quando
odiamos, quando nutrimos raiva ou mágoa, geramos micro-partículas semelhantes
ao elétron, e elas destroem nosso sistema imunológico, e nós adoecemos”.
O Dr. Mark Cleland, da universidade de
Harvard, diz que os derivados do amor produzem linfócitos que sustentam a vida,
e que o otimismo nos ajuda a viver.
Nos últimos anos as pesquisas
científicas vêm demonstrando a eficiência de valores como o amor e o perdão na
geração de saúde e bem-estar. Percebemos então como os ensinamentos de Jesus,
sob a ótica dessas descobertas e constatações científicas, assumem novas feições.
Já podemos começar a deixar de vê-lo apenas pelas vias do misticismo, como o
mártir da cruz ou o fundador de religiões, pois Ele agora nos surge na condição
de cientista cósmico, de Mestre que veio nos ensinar a perfeita ciência do
bem-viver. Suas lições já podem deixar de representar aqueles chavões com
cheiro de obrigação religiosa ou caminho para a colônia espiritual Nosso Lar,
surgindo em toda a sua plenitude como verdades que, obedecidas, promovem o
bem-estar da criatura e o seu crescimento como ser cósmico e eterno.
Então é possível perceber nos meandros dessa
transição de mundo de provas e expiações para o de regeneração, um novo
conceito: o do Cristo cientista. Não um Jesus que veio para criar uma religião
e ser idolatrado, mas o grande conhecedor das leis universais que nos ensinou
como devemos viver e agir para o nosso próprio bem-estar. Perdoar, amar, ser
fraterno, pacífico, mais que preceitos religiosos são fatores de saúde física e
psíquica, porque geram energia psíquica positiva, de boa qualidade. São também
fatores de prosperidade material, até o ponto em que a programação
reencarnatória permita, porque a pessoa que se habitua a desenvolver vibrações
de elevado teor gera uma presença agradável, que lhe abre muitas portas.
Na
verdade, há dentro de nós um universo de conhecimentos a serem buscados, de
capacidades, aptidões e possibilidades infinitas que poderão nos conduzir a
patamares evolutivos mais compatíveis com as características de um mundo de
regeneração.
A
seguir, para melhor elucidação, pinçamos alguns trechos de um trabalho de Irene
Nousiainen, quando aluna do Curso de Pós-graduação em Educação Biocêntrica ,
sobre emoções e afetividade. São abordagens muito interessantes, sobre as quais
vale a pena refletir.
“O
pensamento linear-cartesiano tem sido um dos responsáveis pela fragmentação e
destruição crescente do ser humano e da natureza, vivenciadas atualmente, por
considerar somente o que pode ser medido e quantificado, desqualificando
sensações, qualidades, emoções, sentimentos, alma/espírito, ou seja, dividiu a
vida ao meio e jogou fora dimensões importantes do ser humano.
Em
contraposição a esse modo de ver o mundo, vem sendo desenvolvido o pensamento
complexo encontrado em obras de diversos estudiosos como nas do filósofo Edgar
Morin1, do físico Fritjof Capra2, dos neurocientistas
Humberto Maturana e Francisco Varela3, e ainda nos estudos de Ilya
Prigogine4, Herman Haken5, Manfred Eigen6,
James Lovelock e Lynn Margulis7 e Mandelbrot8, para citar
apenas alguns, nas áreas da física, da biologia e da matemática. O pensamento
complexo resgata a sensibilidade, as sensações, a qualidade, a subjetividade.
Enquanto seres vivos, somos infinitas possibilidades para quem a vivência do
aqui-agora é essencial.
Novos
paradigmas surgem nesse novo olhar e, dentre eles destacamos o princípio
biocêntrico, promovendo uma importante mudança na forma como percebemos,
entendemos e agimos. Estamos evoluindo do antropocentrismo para a visão
biocêntrica de mundo. Isto quer dizer que a vida é a essência de tudo o que
existe - do neutrino ao quasar, da pedra ao pensamento mais sutil. A vida não
existe para o ser humano, mas o ser humano existe porque há a vida; o universo
existe porque existe a vida, parafraseando Rolando Toro.
(...)
Para a dinamização saudável de uma rede relacional das pessoas consigo mesmas,
com as outras pessoas e com tudo o que existe, a afetividade emerge como vital
ao desenvolvimento e expressão do ser humano em toda sua inteireza, que lhe
proporciona qualidade de vida e um novo estilo de viver.
A
seguir, abordamos o assunto com base em alguns estudiosos, especialmente em Rolando Toro que
esquematizou a importante distinção entre emoção e afetividade.
Estudiosos
da neurociência descobriram que as emoções não passam pelo cérebro, não são racionalizadas,
sendo a pura expressão física, biológica de nossos instintos. Raiva, medo,
alegria e tristeza são emoções básicas do ser humano. Não se pensa antes da
raiva, pensa-se depois, lançando a situação na memória. Por isso é importante
conhecer-se para melhor se expressar. Lembrando que tal expressão não é apenas
verbal, mas corpórea, do ser como um todo.
As
sensações provocadas pelas emoções são puramente físicas que geram
comportamentos espontâneos, instintivos e tomadas de decisões rápidas, e, para
tanto, são extremamente necessárias. Diante do perigo sentimos uma descarga
elétrica em nossos músculos, que nos paralisa. Em situações que exigem fuga
nosso coração acelera, joga-se muita adrenalina na corrente sangüínea que se
concentra na periferia corporal, os músculos se preparam, as pupilas se
dilatam, dando-nos todo um esquema propício para que iniciemos a fuga. Diante
da tristeza, choramos. Da alegria, rimos, gargalhamos.
Estudiosos
dessa área ressaltam pessoas que são viciadas em emoções. Por exemplo:
alguém que supervaloriza o ato sexual - que está relacionado ao instinto de
perpetuação da espécie e da busca do desejo - em detrimento do amor, joga
substâncias químicas diretamente na musculatura do organismo relacionadas ao
prazer sexual. Com a continuidade desse comportamento essas substâncias acabam
produzindo dependência, tornando-se essa pessoa refém do ato sexual. Temos
assim pessoas viciadas em fazer sexo pelo sexo, viciadas em emoções e não em relações. O problema
não é apenas de comportamento, ou psicológico. É biológico também. Descargas
desproporcionais e contínuas de substâncias químicas no organismo, alteram a
homeostase gerando desequilíbrios que originam as doenças.
A
afetividade é uma função psicológica que se regula biologicamente pelo sistema
límbico-hipotalâmico. Refere-se especificamente ao que se ama, ao que se tem
cuidado, e está relacionada à função de registro permanente e evocação da
memória, como também, aos valores, à consciência ética e à transcendência ou
espiritualidade. Daí a diferença, por exemplo, entre paixão e amor. A paixão
busca a satisfação biológica instintiva enquanto o amor é a expressão
relacional saudável de uma afinidade profunda entre dois ou mais seres humanos.
A
afetividade implica em relação com o outro, em afinidades profundas, atua
biologicamente no ser e resulta da integração córtico-diencefálica. Tem duração
(freqüência) no tempo e gera inteligência relacional que se expressa por meio
de sentimentos como amor, amizade, empatia, solidariedade, altruísmo, ternura,
compaixão.
Estudos recentes concluem que a afetividade é
a fonte de todos os tipos de inteligência: cinestésico-corporal, verbal,
intrapessoal, interpessoal, lógico-matemática, visual, auditiva, semântica,
musical, espacial, social, naturalista, religiosa, etc.”
Apresentamos
então a afetividade como o primeiro
ponto, o primeiro valor a ser considerado nesta agenda mínima, não só pelos
atributos já identificados, mas também por fornecer conteúdo ou alicerce para
os demais valores crescerem e se firmarem.
Se prestarmos atenção, podemos
perceber quão infinitas vezes em nosso cotidiano podemos usar de afetividade.
Por exemplo, quando vemos uma pessoa feia ou desagradável é natural nos
colocarmos internamente em posição superior a ela. Mas se a olharmos com olhar
afetivo, pensando nas imensas dificuldades que deve enfrentar por causa da sua
condição, lhe enviaremos uma vibração de simpatia, de fortaleza, de
soerguimento.
Da mesma forma, ao nos depararmos com
um tipo mau, repugnante ou facínora, pelo olhar afetivo veremos que seu
espírito é da mesma essência que o nosso, e que ele apenas está vivenciando
fases primárias em suas experiências evolutivas, em patamares ainda
degradantes, mas que um dia sua luz interior irá iluminá-lo por completo, assim
como acontecerá também com nós outros. Então lhe enviaremos uma vibração de
afeto e de indução ao bem.
Quando conseguirmos perceber as
profundas implicações no uso da afetividade em nosso cotidiano, tornando-a atitude
predominante, poderemos também observar como o nosso interior mudou,
iluminou-se.
Sente-se afeto em várias modalidades:
a) por si mesmo;
b) por pessoas que correspondem a esse
sentimento na mesma medida. Esse é o afeto das trocas, portanto, egoísta;
c) por pessoas ou alguma comunidade
eletiva, como por exemplo, a religiosa. Esse ainda é um afeto egoísta, porque
existe em razão de trocas;
d) por tudo e todos de forma
indiscriminada, assim como as águas de uma fonte que jorram, sem pedir nada em troca. Esse é um afeto
não egoísta. É abrir o coração para uma terna vibração, que traz em seu bojo a
alegria. É olhar com carinho para o cachorro “vira-latas”, abandonado,
sarnento, como se estivesse vendo uma flor.
E
lembramos que a afetividade e muitos outros valores podem ser desenvolvidos
através de exercícios. Então sugerimos um que pode ser realizado à noite antes
de adormecer, ou em outros momentos apropriados. Mas pode também ser feito em
qualquer lugar e circunstância, apenas simplificando-o.
Imagine
a atmosfera em torno de si carregada de energia luminosa. Respire essa energia
algumas vezes, calma e profundamente, procurando não pensar, apenas prestando
atenção à respiração e ordenando a si mesmo que deve relaxar.
Quando
sentir-se bem relaxado pense em alguém a quem você ama, ou já amou, com muita
ternura. Deixe essa sensação gostosa de carinho tomar conta de você,
espalhar-se por seu corpo, envolver sua alma, criando uma ambiência interna de
afeto.
Direcione essa
emoção afetiva para si mesmo: seu corpo, sua alma, seu espírito.
Em seguida
direcione-a para fora de si, para o seu ambiente. Sinta afeto pela roupa que
está vestindo, pela cadeira, sofá ou cama em que está repousando; pelo aposento
em que se encontra. Deixe essa emoção afetuosa espalhar-se em todas as
direções, envolvendo nessa vibração tudo e todos, sem qualquer discriminação.
Formule
então com clareza e precisão a seguinte idéia, procurando senti-la
intensamente: meu coração está cheio de afeto; todo o meu ser está envolvido em
vibrações de afeto.
Repita
várias vezes essa afirmativa, sentindo-a profundamente, impregnando-a com o
próprio potencial emocional, fazendo com que penetre em cada célula do corpo.
Sinta fixar-se nas profundezas do EU a afetividade pura, aquela que não
discrimina.
E
sempre que lembrar faça algumas respirações profundas para harmonizar seus
ritmos internos e “sinta” um estado de afetividade em todo o seu ser.
Para
ler e memorizar:
Se
eu assumo um estado de espírito afetivo, eu me torno uma pessoa afetiva,
pacificadora, propensa à alteridade e com mais facilidade para desenvolver a
humildade.
A
afetividade relaxa.
______________
1 Considerado o
pai do pensamento complexo.
2 Vem
consubstanciando, sob o enfoque das teorias da complexidade, o entendimento da
vida como uma rede integrada de possibilidades infinitas.
3 Desenvolveram
estudos sobre a organização dos sistemas vivos e o conceito de autopoiese
- capacidade do ser vivo de produzir a si mesmo continuamente - e dos sistemas
vivos como sistemas cognitivos.
4 Realizou a
ligação essencial entre sistemas em não-equilíbrio e não-linearidade.
5 Desenvolveu a
teoria não-linear do laser.
6 Estudou os
ciclos catalíticos.
7 Desenvolveram
o modelo da hipótese Gaia - o planeta Terra, como um todo, é um sistema vivo
auto-organizado.
8 Desenvolveu,
com base na geometria fractal, uma estrutura matemática altamente complexa.
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