terça-feira, 19 de junho de 2012

Afetividade


As manifestações do amor são tão infinitas, desde as mais primárias até às mais elevadas, que fogem ao nosso entendimento. Na verdade sabemos teorizar o amor, mas não o conhecemos em sua plenitude. Por isso comecemos pela afetividade, como valor principal, porque se nos habituarmos a vivenciá-la, estaremos dando passos importantes para o desenvolvimento do amor mais pleno em nós.
Sabemos que nossas palavras, sentimentos e ações são fortemente influenciados pelos nossos estados de espírito, pelo nosso “clima interior”. Assim, cuidando desse “clima”, estaremos facilitando sobremaneira a vivência de atitudes mais condizentes com o conhecimento espiritual que já alcançamos e com o nosso momento evolutivo.
Sugerimos que pare por instantes esta leitura para imaginar algumas situações nas quais um estado de espírito afetivo pode induzir a atitudes mais condizentes com os valores ensinados pelo Espiritismo.
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Num seminário sobre perdão e auto-perdão o médium e orador espírita Divaldo Franco disse:

“Dois físicos quânticos de renome estabeleceram que quando nós amamos, produzimos moléculas, micro-partículas que podem ser semelhantes a fótons e vitalizam-nos a corrente sanguínea, e quando odiamos, quando nutrimos raiva ou mágoa, geramos micro-partículas semelhantes ao elétron, e elas destroem nosso sistema imunológico, e nós adoecemos”.
O Dr. Mark Cleland, da universidade de Harvard, diz que os derivados do amor produzem linfócitos que sustentam a vida, e que o otimismo nos ajuda a viver.
Nos últimos anos as pesquisas científicas vêm demonstrando a eficiência de valores como o amor e o perdão na geração de saúde e bem-estar. Percebemos então como os ensinamentos de Jesus, sob a ótica dessas descobertas e constatações científicas, assumem novas feições. Já podemos começar a deixar de vê-lo apenas pelas vias do misticismo, como o mártir da cruz ou o fundador de religiões, pois Ele agora nos surge na condição de cientista cósmico, de Mestre que veio nos ensinar a perfeita ciência do bem-viver. Suas lições já podem deixar de representar aqueles chavões com cheiro de obrigação religiosa ou caminho para a colônia espiritual Nosso Lar, surgindo em toda a sua plenitude como verdades que, obedecidas, promovem o bem-estar da criatura e o seu crescimento como ser cósmico e eterno.
  Então é possível perceber nos meandros dessa transição de mundo de provas e expiações para o de regeneração, um novo conceito: o do Cristo cientista. Não um Jesus que veio para criar uma religião e ser idolatrado, mas o grande conhecedor das leis universais que nos ensinou como devemos viver e agir para o nosso próprio bem-estar. Perdoar, amar, ser fraterno, pacífico, mais que preceitos religiosos são fatores de saúde física e psíquica, porque geram energia psíquica positiva, de boa qualidade. São também fatores de prosperidade material, até o ponto em que a programação reencarnatória permita, porque a pessoa que se habitua a desenvolver vibrações de elevado teor gera uma presença agradável, que lhe abre muitas portas.
Na verdade, há dentro de nós um universo de conhecimentos a serem buscados, de capacidades, aptidões e possibilidades infinitas que poderão nos conduzir a patamares evolutivos mais compatíveis com as características de um mundo de regeneração.
A seguir, para melhor elucidação, pinçamos alguns trechos de um trabalho de Irene Nousiainen, quando aluna do Curso de Pós-graduação em Educação Biocêntrica, sobre emoções e afetividade. São abordagens muito interessantes, sobre as quais vale a pena refletir.
“O pensamento linear-cartesiano tem sido um dos responsáveis pela fragmentação e destruição crescente do ser humano e da natureza, vivenciadas atualmente, por considerar somente o que pode ser medido e quantificado, desqualificando sensações, qualidades, emoções, sentimentos, alma/espírito, ou seja, dividiu a vida ao meio e jogou fora dimensões importantes do ser humano.
Em contraposição a esse modo de ver o mundo, vem sendo desenvolvido o pensamento complexo encontrado em obras de diversos estudiosos como nas do filósofo Edgar Morin1, do físico Fritjof Capra2, dos neurocientistas Humberto Maturana e Francisco Varela3, e ainda nos estudos de Ilya Prigogine4, Herman Haken5, Manfred Eigen6, James Lovelock e Lynn Margulis7 e Mandelbrot8, para citar apenas alguns, nas áreas da física, da biologia e da matemática. O pensamento complexo resgata a sensibilidade, as sensações, a qualidade, a subjetividade. Enquanto seres vivos, somos infinitas possibilidades para quem a vivência do aqui-agora é essencial.
Novos paradigmas surgem nesse novo olhar e, dentre eles destacamos o princípio biocêntrico, promovendo uma importante mudança na forma como percebemos, entendemos e agimos. Estamos evoluindo do antropocentrismo para a visão biocêntrica de mundo. Isto quer dizer que a vida é a essência de tudo o que existe - do neutrino ao quasar, da pedra ao pensamento mais sutil. A vida não existe para o ser humano, mas o ser humano existe porque há a vida; o universo existe porque existe a vida, parafraseando Rolando Toro.
(...) Para a dinamização saudável de uma rede relacional das pessoas consigo mesmas, com as outras pessoas e com tudo o que existe, a afetividade emerge como vital ao desenvolvimento e expressão do ser humano em toda sua inteireza, que lhe proporciona qualidade de vida e um novo estilo de viver.
A seguir, abordamos o assunto com base em alguns estudiosos, especialmente em Rolando Toro que esquematizou a importante distinção entre emoção e afetividade.
Estudiosos da neurociência descobriram que as emoções não passam pelo cérebro, não são racionalizadas, sendo a pura expressão física, biológica de nossos instintos. Raiva, medo, alegria e tristeza são emoções básicas do ser humano. Não se pensa antes da raiva, pensa-se depois, lançando a situação na memória. Por isso é importante conhecer-se para melhor se expressar. Lembrando que tal expressão não é apenas verbal, mas corpórea, do ser como um todo.
As sensações provocadas pelas emoções são puramente físicas que geram comportamentos espontâneos, instintivos e tomadas de decisões rápidas, e, para tanto, são extremamente necessárias. Diante do perigo sentimos uma descarga elétrica em nossos músculos, que nos paralisa. Em situações que exigem fuga nosso coração acelera, joga-se muita adrenalina na corrente sangüínea que se concentra na periferia corporal, os músculos se preparam, as pupilas se dilatam, dando-nos todo um esquema propício para que iniciemos a fuga. Diante da tristeza, choramos. Da alegria, rimos, gargalhamos.
Estudiosos dessa área ressaltam pessoas que são viciadas em emoções. Por exemplo: alguém que supervaloriza o ato sexual - que está relacionado ao instinto de perpetuação da espécie e da busca do desejo - em detrimento do amor, joga substâncias químicas diretamente na musculatura do organismo relacionadas ao prazer sexual. Com a continuidade desse comportamento essas substâncias acabam produzindo dependência, tornando-se essa pessoa refém do ato sexual. Temos assim pessoas viciadas em fazer sexo pelo sexo, viciadas em emoções e não em relações. O problema não é apenas de comportamento, ou psicológico. É biológico também. Descargas desproporcionais e contínuas de substâncias químicas no organismo, alteram a homeostase gerando desequilíbrios que originam as doenças.
A afetividade é uma função psicológica que se regula biologicamente pelo sistema límbico-hipotalâmico. Refere-se especificamente ao que se ama, ao que se tem cuidado, e está relacionada à função de registro permanente e evocação da memória, como também, aos valores, à consciência ética e à transcendência ou espiritualidade. Daí a diferença, por exemplo, entre paixão e amor. A paixão busca a satisfação biológica instintiva enquanto o amor é a expressão relacional saudável de uma afinidade profunda entre dois ou mais seres humanos.
A afetividade implica em relação com o outro, em afinidades profundas, atua biologicamente no ser e resulta da integração córtico-diencefálica. Tem duração (freqüência) no tempo e gera inteligência relacional que se expressa por meio de sentimentos como amor, amizade, empatia, solidariedade, altruísmo, ternura, compaixão.
 Estudos recentes concluem que a afetividade é a fonte de todos os tipos de inteligência: cinestésico-corporal, verbal, intrapessoal, interpessoal, lógico-matemática, visual, auditiva, semântica, musical, espacial, social, naturalista, religiosa, etc.”

Apresentamos então a afetividade como o primeiro ponto, o primeiro valor a ser considerado nesta agenda mínima, não só pelos atributos já identificados, mas também por fornecer conteúdo ou alicerce para os demais valores crescerem e se firmarem.
Se prestarmos atenção, podemos perceber quão infinitas vezes em nosso cotidiano podemos usar de afetividade. Por exemplo, quando vemos uma pessoa feia ou desagradável é natural nos colocarmos internamente em posição superior a ela. Mas se a olharmos com olhar afetivo, pensando nas imensas dificuldades que deve enfrentar por causa da sua condição, lhe enviaremos uma vibração de simpatia, de fortaleza, de soerguimento.
Da mesma forma, ao nos depararmos com um tipo mau, repugnante ou facínora, pelo olhar afetivo veremos que seu espírito é da mesma essência que o nosso, e que ele apenas está vivenciando fases primárias em suas experiências evolutivas, em patamares ainda degradantes, mas que um dia sua luz interior irá iluminá-lo por completo, assim como acontecerá também com nós outros. Então lhe enviaremos uma vibração de afeto e de indução ao bem.
Quando conseguirmos perceber as profundas implicações no uso da afetividade em nosso cotidiano, tornando-a atitude predominante, poderemos também observar como o nosso interior mudou, iluminou-se.

Sente-se afeto em várias modalidades:
a) por si mesmo;
b) por pessoas que correspondem a esse sentimento na mesma medida. Esse é o afeto das trocas, portanto, egoísta;
c) por pessoas ou alguma comunidade eletiva, como por exemplo, a religiosa. Esse ainda é um afeto egoísta, porque existe em razão de trocas;
d) por tudo e todos de forma indiscriminada, assim como as águas de uma fonte que jorram, sem pedir nada em troca. Esse é um afeto não egoísta. É abrir o coração para uma terna vibração, que traz em seu bojo a alegria. É olhar com carinho para o cachorro “vira-latas”, abandonado, sarnento, como se estivesse vendo uma flor.

E lembramos que a afetividade e muitos outros valores podem ser desenvolvidos através de exercícios. Então sugerimos um que pode ser realizado à noite antes de adormecer, ou em outros momentos apropriados. Mas pode também ser feito em qualquer lugar e circunstância, apenas simplificando-o.
Imagine a atmosfera em torno de si carregada de energia luminosa. Respire essa energia algumas vezes, calma e profundamente, procurando não pensar, apenas prestando atenção à respiração e ordenando a si mesmo que deve relaxar.
Quando sentir-se bem relaxado pense em alguém a quem você ama, ou já amou, com muita ternura. Deixe essa sensação gostosa de carinho tomar conta de você, espalhar-se por seu corpo, envolver sua alma, criando uma ambiência interna de afeto.
Direcione essa emoção afetiva para si mesmo: seu corpo, sua alma, seu espírito.
Em seguida direcione-a para fora de si, para o seu ambiente. Sinta afeto pela roupa que está vestindo, pela cadeira, sofá ou cama em que está repousando; pelo aposento em que se encontra. Deixe essa emoção afetuosa espalhar-se em todas as direções, envolvendo nessa vibração tudo e todos, sem qualquer discriminação.
Formule então com clareza e precisão a seguinte idéia, procurando senti-la intensamente: meu coração está cheio de afeto; todo o meu ser está envolvido em vibrações de afeto.
Repita várias vezes essa afirmativa, sentindo-a profundamente, impregnando-a com o próprio potencial emocional, fazendo com que penetre em cada célula do corpo. Sinta fixar-se nas profundezas do EU a afetividade pura, aquela que não discrimina.
E sempre que lembrar faça algumas respirações profundas para harmonizar seus ritmos internos e “sinta” um estado de afetividade em todo o seu ser.

Para ler e memorizar:
Se eu assumo um estado de espírito afetivo, eu me torno uma pessoa afetiva, pacificadora, propensa à alteridade e com mais facilidade para desenvolver a humildade.
A afetividade relaxa.

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1 Considerado o pai do pensamento complexo.
2 Vem consubstanciando, sob o enfoque das teorias da complexidade, o entendimento da vida como uma rede integrada de possibilidades infinitas.
3 Desenvolveram estudos sobre a organização dos sistemas vivos e o conceito de autopoiese - capacidade do ser vivo de produzir a si mesmo continuamente - e dos sistemas vivos como sistemas cognitivos.
4 Realizou a ligação essencial entre sistemas em não-equilíbrio e não-linearidade.
5 Desenvolveu a teoria não-linear do laser.
6 Estudou os ciclos catalíticos.
7 Desenvolveram o modelo da hipótese Gaia - o planeta Terra, como um todo, é um sistema vivo auto-organizado.
8 Desenvolveu, com base na geometria fractal, uma estrutura matemática altamente complexa.

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