domingo, 12 de maio de 2013

FALANGE DOS PRETOS-VELHOS







A Falange dos Pretos-Velhos, composta de milhares de Espíritos, é talvez, no meu ponto de vista, o alicerce de onde se ergueu e difundiu a nossa Sagrada Umbanda. Enquanto encarnados, na condição de negros e escravos, apesar de todo ultraje que sofreram, não deixaram morrer a fé e o Culto aos orixás. Vinham para o Brasil misturados com seus inimigos de guerra. Considerando que em sua terra de origem, muitos destes negros eram prisioneiros de tribos rivais. Experimentaram a dor e o sofrimento, nas mesmas condições: todos agora eram prisioneiros dos brancos europeus. Acredito que esta foi a forma encontrada pela Misericórdia Divina para mostrar uns aos outros, o mal que se faziam mutuamente. Chegando ao Brasil, passaram a viver sob o mesmo jugo. Logo, entenderam a necessidade de se unirem, independente de suas diferenças deixadas na terra natal. 

Desencarnados, passaram a incorporar em seus descendentes, em lugares adequados e trazendo consigo, características e costumes das nações que pertenciam. 

Hoje, muitas dessas Entidades não incorporam mais. No entanto, chefiam grande número de Espíritos que, por missão, incorporam em nossos Terreiros, seguindo os costumes e ensinamentos recebidos pelos ‘mais velhos’. Nem sempre, aquela Entidade que incorporamos como Preto-Velho, fora na realidade um escravo em sua última existência. Muitos tomam tal forma, e se submetem a tal condição, para continuarem sua escala evolutiva. Dentre essas Entidades, encontramos netos, bisnetos e tataranetos, daqueles negros. 

Na Umbanda os Pretos-Velhos desempenham papel muito importante para nossa evolução espiritual: São eles que tomam para si a responsabilidade de nos ensinar os caminhos do perdão, da resignação, da coragem e da esperança. Seus conselhos sempre vêm nos momentos de dificuldade e sempre são cheios de ternura e paciência. Mas quando entendem que o ‘filho’ está abusando de sua bondade, são firmes e austeros. 

Geralmente usam em suas roupas e guias (fios de conta) as cores preta e branca, simbolizando a dor e a liberdade. A noite e o dia. A saudade e o reencontro. Também é sabido, que naquela época, os escravos, em sua maioria, vestiam roupas de xadrez preto e branco (carijó) 

A guia feita de lágrima de Nossa Senhora (semente de cor cinza com uma palhinha dentro) é muito usada pelos nossos Vovôs e Vovós lembrando os tempos de cativeiro. É de bom tom, ao retirar a palha de dentro da semente, juntá-las e depois fazer uma fogueirinha, agradecendo a luta dos negros pelo fim da escravidão. Este ritual, para nós, representa a nossa luta pelo fim de nossas angústias e sofrimentos. 

A postura dessas Entidades, desde sempre, tem sido de grande importância para a valorização da Cultura Afro-Brasileira. Muitos estudiosos, antropólogos em sua maioria, encontram na Umbanda respostas para suas pesquisas sobre um povo que, apesar de todo sofrimento, consegue manter viva sua cultura e dá a todos exemplos magníficos de amor e compaixão. 

O grande ‘axé’ dos nossos Pretos-Velhos é, com toda certeza, a virtude de saber perdoar. Mas perdoar sem pieguice. Pois o seu perdão, é fruto do desapego ao orgulho e a vaidade, desenvolvendo assim o mais nobre dos sentimentos: a humildade. 

Os Terreiros de Umbanda homenageiam estas Entidades no dia 13 de maio. Data em que foi assinada a Lei Áurea. O grande marco da libertação dos escravos.

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