quarta-feira, 18 de julho de 2012

PRINCÍPIOS DA PRÁTICA PEDAGÓGICA DE JESUS E SUA APLICAÇÃO NA UMBANDA

1. A Pessoa Humana 

Compreendendo o princípio pedagógico: Estudando a vida de Jesus entendemos que a valorização do ser humano naquilo que apresenta em seu atual estágio de desenvolvimento, é o primeiro princípio respeitado pelo Mestre, pois não exige dos seus discípulos e seguidores nada além das suas capacidades, orientando suas potencialidades para o bem ao próximo. Nas narrativas dos chama-dos quatro evangelistas (Mateus, Marcos, Lucas e João), destacam-se oportunidades em que Jesus revela pleno conhecimento dos seus interlocutores e incentiva-os a darem de si mesmos para o bem da coletividade, sempre buscando que cada um assuma uma postura, tenha uma atitude. 
Visão umbandista deste princípio pedagógico: Valorizar o ser humano naquilo que traz de experiências pretéritas (vidas passadas) e no seu potencial de desenvolvimento intelectual e moral, como espírito imortal presentemente reencarnado, é princípio que também caracteriza o trabalho educacional umbandista. 
Praticando este princípio pedagógico: O umbandista deve respeitar aquele que está sob seus cuidados e orientação (o educando), estimulando-o para desenvolver habilidades, aptidões e concepções por si mesmo e na interação com os demais educandos. "Conhecereis a verdade e ela vos libertará", disse Jesus, afirmando que o homem, através do seu progresso, paulatinamente estará mergulhando na verdade divina da vida, de acordo com os estímulos educacionais que recebe. Deve o evangelizador introduzir dinâmicas educativas que proporcionem ao educando fazer por si mesmo, pensar e elaborar conceitos.

2. O Crescimento Pessoal 

Compreendendo o princípio pedagógico: Jesus, o maior educador de todos os tempos, por várias vezes estimulou os discípulos para que exercitassem seu crescimento interior na fé e na prática do Evangelho. Na passagem da tempestade, quando o barco ameaça perder-se no fundo das águas revoltas, Jesus aparece andando sobre as ondas e, percebendo a dúvida dos discípulos, pois pensavam estar sob ilusão, convida Pedro a ter fé e andar também ele sobre as águas. Jesus aguarda, mantendo distância, e o mais velho dos discípulos efetivamente consegue. Entretanto, Pedro vacila e começa a afundar, sendo resgatado pelo Mestre que explica: a pouca fé fora o motivo, mas o crescimento do poder dessa fé no íntimo do ser pode realizar prodígios, como aquele do qual todos foram testemunhas. 
Visão umbandista deste princípio pedagógico: Sendo o homem um espírito eterno presentemente re-encarnado, dotado de atributos, ou potencialidades, seu crescimento pessoal é fator preponderante na ação educacional. O crescimento interior da fé e da prática do Evangelho também são reconhecidos pela Umbanda como fundamentais para a evolução do espírito. 

Praticando este princípio pedagógico: Deve o umbandista solicitar dos educandos o esforço próprio no cumprimento das tarefas em sala de aula e nos estudos, não fazendo por eles (nem mesmo os trabalhos manuais quando sejam menores). A introdução de estudos relativos às leis divinas e sua aplicação na vida cotidiana é outro fator importante no desenvolvimento do educando, o que deve ser feito utilizando-se dinâmicas como dramatização, exemplos vivos retirados da mídia, etc., permitindo ampla interação por parte do educando.
3. Valorização do Contato Pessoal 

Compreendendo o princípio pedagógico: Jesus está com os discípulos. Jesus está com os familiares dos discípulos. Jesus está na praça pública. Jesus está na praia. Jesus está nas estradas. Jesus está no templo. Jesus sempre está com alguém, inclusive com Deus nos momentos íntimos de oração. É a valorização do contato pessoal, pois a Boa Nova é para o coração do homem. Jesus vai ao encontro dos seus irmãos e atende-lhes as necessidades. 
Visão umbandista deste princípio pedagógico: "Fora da caridade não há salvação" é o grande lema da Umbanda, entendendo que caridade é amar o próximo, é atender-lhe, é caminhar com ele, é ouvi-lo, enfim, é prestar todo atendimento necessário. E não há caridade sem o contato pessoal, sem a valorização da relação interpessoal. 
Praticando este princípio pedagógico: Também o umbandista deve estar atento às necessidades dos educandos, atendendo-lhes com amor e solicitude, afeto e paciência. Deve fazer da sala de aula uma extensão do lar, não apenas no aspecto físico, mas, principalmente, no sentido da relação afetiva. Deve procurar ouvir os educandos e aproveitar suas narrativas, suas angústias, seus problemas, seus sonhos, suas alegrias, para de tudo isso extrair lições de vida que enriqueçam a importância do contato pessoal, do estar com outro, do construir sua história com a história dos outros.

4. O Homem e a Experiência Humana

Compreendendo o princípio pedagógico: Outro princípio praticado por Jesus é "não dar o peixe, mas ensinar o homem a pescar", como ensina antigo provérbio chinês. Estimulando os discípulos à prática do amor e da caridade, prepara-os para exercitarem por si mesmos os ensinos. Eles partem em duplas, pelos caminhos, para ensinar o Evangelho. Jesus estimula-os para as atividades de cura, para a desobsessão (expulsar demônios como se dizia à época) e também para o atendimento fraterno às pessoas necessitadas de orientação e consolo. Os discípulos estão sempre estudando e trabalhando. Ouvem o Mestre, fazem suas indagações e colocam-se a caminho. Jesus não fazia tudo sozinho, nem tomava o lugar que competia aos discípulos. Sabia que a experiência individual é insubstituível para o crescimento equilibrado do homem. 
Visão umbandista deste princípio pedagógico: Qualificar o homem para o bom desempenho de sua missão na Terra, quer no âmbito familiar como no social, é reconhecido pela Umbanda como tarefa da educação, e isso só pode ser feito se ele tiver as lições teóricas e os espaços para a correspondente prática. Assim educado, ele terá condições de interagir com a sociedade e modificá-la. 
Praticando este princípio pedagógico: Este princípio pedagógico de Jesus determina na ação educacional que o evangelizador abra espaços generosos para que o educando faça por si mesmo, tendo a própria experiência como modelo de aprendizagem. A aplicação de vivências de solidariedade e práticas de bondade (descritas no livro "Pedagogia da Sensibilidade), são fundamentais para que o educando aprenda e incorpore em seu psiquismo as lições vivas do Evangelho.

5. Visão Integral do Homem 

Compreendendo o princípio pedagógico: Sendo espírito perfeito, governador do planeta terra, Jesus tinha plena consciência da condição integral do ser humano como espírito imortal. Não é por outra razão que ele declara: "Vós sois a luz do mundo, vós sois o sal da terra". Ao mesmo tempo sabia lidar com os diversos graus de nossas aptidões, sempre exaltando o bem, o belo, o positivo. Não tecia julgamentos e cuidava de esclarecer e consolar na mesma medida, sem distinções, exaltando a criação divina e o potencial humano de crescimento. 
Visão umbandista deste princípio pedagógico: Observamos em Jesus a crença no homem, pois na verdade estava vendo o espírito imortal, que tem por finalismo a perfeição, o estado de puro espírito. Reconhecia nossas fraquezas e vícios, mas não os condenava, fazendo todos os esforços para aprimorar nosso entendimento e a força de vontade em superar obstáculos no auto-aprimoramento. 
Praticando este princípio pedagógico: Compete ao evangelizador reconhecer no educando esse ser integral, espírito eterno, e trabalhar no sentido de educar, ou seja, formar consciências, com amor, sem julgamentos, procurando dar todos os estímulos possíveis a esse espírito reencarnado em jornada evolutiva. Aplicam-se aqui as técnicas de sensibilização e os exercícios de vida descritos na obra "Pedagogia da Sensibilidade" (já referida).

6. Relação Teoria-Prática 

Compreendendo o princípio pedagógico: Outro princípio presente na pedagogia de Jesus é a relação constante entre a teoria dos seus ensinos e a prática dos mesmos. Ele não ficava nas parábolas, nos sermões ou contando histórias. Ele era o exemplo vivo. Diversas vezes chamou a atenção dos discípulos para a necessidade deles mesmos praticarem o que ouviam, pois o Evangelho, para se estabelecer nos corações, necessita de algo mais do que as letras faladas ou escritas, precisa do exemplo, necessita da dinâmica do amor ao próximo. 
Visão umbnadista deste princípio pedagógico: Essa relação entre a teoria e a prática é muito importante em educação, pois a formação do caráter e a educação moral do homem não se fazem somente pelos livros, pelas leis ou pelos discursos, como informa Allan Kardec em "O Livro dos Espíritos". Toda teoria, que é sempre imprescindível em qualquer ramo do conhecimento humano, significa o estudo, a apreciação, enfim, o próprio conhecimento da ciência ou disciplina à qual nos dedicamos. A teoria deve estar conjugada com a prática, que corresponde às experiências acumuladas de aplicação da teoria. 
Praticando este princípio pedagógico: O evangelizador deve trabalhar de forma dinâmica e criativa, fazendo da sala de aula um ambiente alegre, proveitoso nos ensinos e estimulante no fazer. Jogos cooperativos e dinâmicas para desenvolvimento do relacionamento interpessoal devem intercalar os estudos, fazendo com que os educandos se sintam envolvidos pela energia do Evangelho e percebam que sua prática no mundo atual é perfeitamente possível e necessária.

7. O Sentido Transcendente da Experiência Humana 

Compreendendo o princípio pedagógico: Por que vivemos na terra? Por que temos a experiência reencarnatória? Jesus respondeu essas e outras questões no magistral diálogo com Nicodemos, ao esclarecer as diferenças entre o corpo e o espírito, nosso ascendente divino e nossa destinação superior. Como Mestre, sempre esclareceu a necessidade de transcendermos a condição humana, de combatermos o egoísmo, o orgulho e os vícios em nós mesmos. Em reconhecermos a paternidade divina e darmos importância às relações afetivas que constroem o homem verdadeiramente civiliza-do. 
Visão umbandista deste princípio pedagógico: É essa transcendência que a Umbanda resgata e que deve ser trabalhada pelo processo educacional desenvolvido pela evangelização umbandista. O educando, em essência espírito imortal, utiliza a reencarnação como tempo de aprendizagem, resgate de débitos passados e construção de si mesmo, além de atuar na sociedade para o adiantamento da mesma. 
Praticando este princípio pedagógico: Valorizar a vida humana em seu rico universo: família, instituições sociais diversas, interação com o próximo, mostrando aos educandos a importância da existência terrena, onde o presente está ligado ao passado e também ao futuro. Trabalhar a educação moral com a formação do caráter e o desenvolvimento de bons hábitos.


*Marcus De Mario é educador e escritor. É diretor do Instituto Brasileiro de Educação Moral e colaborador do Centro Espírita Humildade e Amor, na cidade do Rio de Janeiro.
Mario, Marcus Alberto De. Pedagogia da Sensibilidade. Rio de Janeiro: Interior da Alma, 1ª ed., 2002.

Nenhum comentário:

Postar um comentário