segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Pólvora na Umbanda e Cultos Africanos


É com a Pólvora que se faz o  chamado  ponto-de-fogo,  um  dos  mais  utilizados  recursos  da  Umbanda  e  dos  Cultos  Africanos,  para finalidades das mais diversas. Seu uso na Magia Negra é bastante difundido e os feiticeiros o utilizam em suas investidas contra seus adversários ou suas vítimas.
pólvora é também conhecida por fundanga ou tuia e a sua fabricação pode ser caseira ou industrializada. A diferença entre uma e outra é  idêntica a dos defumadores ou banhos de  ervas colhidas e os comprados  em firmas  especializadas,  isto  é,  nestas  falta-lhes  o  preparo mágico  indispensável  e  a  dosagem  exata  de  seus componentes o que, por vezes, impede seja atingido o fim colimado.

Fundanga  é uma expressão de origem kimbundo  e  seu  significado, naquele  idioma, é  exatamente, pólvora.

Quanto a tuia, ainda que por sua morfologia nos afigure palavra de origem indígena é oriunda do ioruba tuyo que significa expelir, deslocar para fora. A  palavra  representativa  de  pólvora  nos  idiomas  indígenas,  somente  a  fomos  encontrar  no  tupi  e  é  uma palavra arcaica e obsoleta na Umbanda, pois jamais ouvimos sequer um caboclo solicitar mocacui para seus trabalhos, dando preferência, invariavelmente, às expressões de origem africana.
A pólvora é um elemento de Magia ambivalente prestando-se, destarte, à  serviços para o Bem  e o Mal. É, pois, por sua potência, um dos recursos mais utilizados pelos feiticeiros para o enfeitiçamento de pessoas ou coisas  tendo, ainda, o  inusitado dom de  transmitir ou conferir, a quem quer que seja,  todo o poder que sua utilização  seja  feita com a  estrita obediência dos preceitos de Magia e  independentemente do  fim a que  se destina.
Tais  fatores,  conjugados,  nos  levam  à  conclusão  de  que  todos  os  trabalhos  com pólvora  exigem  uma concentração  e  precaução  extraordinárias. Daí  o  porquê  só  devam  ser  feitas  por  entidades,  na  sua  quase totalidade Exus, ou quando considerarem oportuno, delegarem poderes a um médium especializado para sua execução.
O primeiro nos impulsiona constantemente para a frente e para o alto nos dá ânimo e pertinácia em todos os nossos passos, nos  concede  o  ardor,  a  iniciativa, o  espírito  de  luta,  a vontade  e  a  capacidade de  satisfazer nossos  desejos  atingindo  o  objetivo  de  nossas  aspirações  mas,  em  troca,  nos  oferece  a  inquietude,  a
inconstância  e  o  amor  às mudanças  e  novidades,  a  impulsividade  que  nos  leva  a  ações  inconseqüentes, recolhendo  frutos  não  amadurecidos  e  perdendo  os melhores  e mais  compensadores  resultados  de  nossos esforços.
O segundo, é aquele que nos tolhe e nos traz desenvolvimento, fazendo-nos introspectivos, nos causa medo e a  reflexão,  nos  leva  a  cingir-nos  e  a  fixar-nos  tanto  no  erro  quanto  na  verdade,  nos  hábitos  viciosos  e virtuosos, nos torna fiéis e perseverantes, firmes em nossa vontade e tenazes esforços, e nos capacita a atrair aquilo para o que  estamos  interiormente  sintonizados pelos  nossos pensamentos,  convicções  e  aspirações.
Em  contraposição,  nos  acarreta  a  desilusão  e  o  discernimento,  nos  afasta  das mudanças  e  de  toda  ação irreflexiva, porém, também, de todo progresso, esforço e superação.
Apresenta-nos,  agora,  o  terceiro  componente,  o  carvão,  inteiramente  distinto  dos  demais,  pois  sua propriedade primordial é a fácil absorção dos fluidos de quaisquer naturezas. Assim sendo, todas as emoções astrais  são  por  ele  retidas  e,  por  isso,  desembaraça  os  objetos materiais  dos  fluidos  de  que  se  encontram impregnados.
Sua  ação  intermediária, neste  sentido,  se  caracteriza pela  lentidão  e  segurança,  e o  fato de  agir  em  estado natural obrigam-nos  a  conjurá-lo  quando  em  seu uso  em  trabalhos  de Magia,  a  fim  de  limpa-lo  dos maus fluidos de que, porventura, esteja impregnado.
pólvora
Hermeticamente, o carvão,  em  seu  estado natural é o  símbolo da Constância  e,  em combustão, do Fervor, isto porque, neste estado, consegue dissolver o mais duro dos metais.

O estudo acurado dos elementos componentes da pólvora e da dualidade de suas funções, inerentes a tudo o que  existe  no Universo,  é  suficiente  ao  iniciado para  saber onde,  quando  e  como usa-la  e,  ao Mago, para possibilitar-lhe o conhecimento de seus efeitos malévolos contra  indivíduos e coisas, se utilizada no campo da Magia do Mal, assim como aquilatar o poder e os conhecimentos de quem a empregou.

De  tudo  o  que  dissemos, deduz-se  que  a pólvora  jamais deve  ser  queimada dentro  de  casas ou  ambientes fechados e sim, próxima a aberturas, pois o recinto fechado não permite a evaporação das camadas deletérias por ela deslocadas em sua explosão, o que determinará o sobrecarregamento do ambiente de novos resíduos, estes já oriundos de sua ação.
Apesar  de  ser  a  pólvora  a  força máxima  pra  limpeza,  seu  uso  deve  ser restrito  a  casos  da mais  absoluta necessidade e, além dos cuidados já arrolados no presente trabalho,sob a responsabilidade do Guia-Chefe ou de  seu  preposto,  com  o  auxílio,  é  evidente,  das  falanges  trabalhadoras  ou  evocadas.  Outrossim,  jamais poderemos  iniciar sua combustão senão com  fósforos pelo mão-de-fogo, ou charutos, no caso de entidades incorporadas. Em hipótese alguma utilizaremos a chama de velas para tal fim e, muito menos, isqueiros.
 
Concluindo, queremos frisar que algumas casas, face aos solertes ataques que são dirigidos à nossa Religião, taxada  de  primitiva, mercê  de  seus  rituais,  vêm abolindo  o  uso  da  tuia  às  vezes  até  em  choque  com  as instruções emanadas dos Guias.
A estas acometidas podemos antepor o uso dos fogos nas procissões e festas
católicas, principalmente nas de São João, Pedro e Antônio e que, em suma, nada mais representam que uma queima, semelhante aos seus efeitos, ao nosso ponto-de-fogo.
Ademais,  quando  o  Astral  Inferior  que  envolve  nosso  Planeta  com  suas  densas  camadas,  encontra-se sobrecarregado de cascões, vampiros, magos negros, corpos astrais de animais, formas de pensamento maus, de  criação  consciente  ou  inconsciente,  artificiais  humanos  e  invólucros  vitalizados,  estes  da  mais  alta periculosidade  e  utilizados  nos  trabalhos  de  Vodu,  o  Alto,  em  sua  Eterna  Sabedoria,  envia  violentos temporais cósmicos, onde os efeitos luminosos da queima da pólvora cumbem, pela eletricidade cósmica, de limpar o ambiente.
É claro que tais tormentas, tão bem descritas por André Luiz, chegam até nós sob a forma de cataclismos materiais que, em que pese a violência de que se revestem, nada mais são que meros reflexos dos originais.

Então o  fogo produzido pelas descargas elétricas age  sobre os componentes da pólvora desanuviando o ar pesado e tenso acumulado durante o longo período que as antecedeu.

A descarga da pólvora que efetivamente nada mais é que um  insignificante arremedo, no Microcosmo, dos recursos  utilizados  pelo  Poder Universal  com  idênticas  finalidades,  é  claro,  as  enormes  proporções  que  o separam do Macrocosmo.
Ao  encerrarmos, voltemos  à  tecla  que  jamais  cansaremos  de  acionar:  se  o  irmão  não  estiver  devidamente preparado, se não possuir o axé de mão-de-fogo e, principalmente, se não encontrar previamente autorizado por nossos Grandes Mestres ouça nosso conselho e não se arrisque  inutilmente a executar vaidosamente um trabalho de tal monta. Se o fizer, estará em  idêntica situação de um motorista que, ansioso para mostrar sua habilidade e competência, não se peja em pôr em risco não apenas sua vida, mas, o que é mais grave, a de todos  que  o  acompanham  em  seu  veículo.  E,  se  alguma  vez  sentir-se  tentado  a  faze-lo  que,  nesta  hora, ressoem em seus ouvidos a Curimba de Fogo, a fim de alerta-lo sobre o erro em que incindirá:
Só queima tuia quem pode queimá
Meu ponto é seguro, não deve falhá
Só manda fogo quem pode mandá
Meu ponto é seguro, meu Pai Oxalá
Caso, no entanto, esteja capacitado a faze-lo, que Oxalá o permita, nunca sua mão se aproxime de um ponto-de-fogo  com  intenções outra as que não  a de  trazer benefício  aos  seus  semelhantes. Que  sua  conduta  seja reta,  sua  fé  acendrada  e  a  confiança  em  seus  conhecimentos  inabalável. Que  o  irmão  aprove,  sempre    em
todas as oportunidades, que é um verdadeiro portador do axé de fogo. Sarava!

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