sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Reflexões sobre o Brasil e a Umbanda - 1º Parte


Da atitude de Zélio de Moraes, em 15 de novembro de 1908, que, incorporado, declarou estar "faltando uma flor" na mesa da Federação Espírita de Niterói, surgiu um dos pontos cantados mais belos da umbanda:

Surgiu no jardim mais uma flor, 
Mamãe Oxum trazendo paz e amor, 
Que vai crescendo, por este imenso Brasil.
Bandeira branca de Oxalá, força do Além, 
Mãe caridosa que ao mundo deseja o bem...
Vai sempre em frente, ó minha umbanda querida!
Leva a doçura da vida para aqueles que não têm.

Assim foi delineada a doutrina que se conhece por umbanda, despida de preconceitos racistas, pela sua origem africana, no sentido de agrupar em suas atividades escravos, senhores, pretos, brancos, nativos, exilados, imigrantes, descendentes, e todos os povos do mundo, sediados em solo brasileiro.

Ramatís, A Missão do Espiritismo, 1967.

Brasil Pátria do Evangelho, Coração do Mundo
FCX/Humberto de Campos

O inundo político e social do Ocidente encontra-se exausto.
Desde  as pregações de Pedro, o  eremita, até a morte do Rei Luís IX,  diante de Túnis, acontecimento que colocara um dos derradeiros marcos nas  guerras das Cruzadas, as sombras da idade medieval confundiram as lições do Evangelho, ensanguentando todas as bandeiras do mundo cristão. Foi após essa época, no último quartel do século XIV, que o Senhor desejou realizar uma de suas visitas periódicas à Terra, a fim de observar os progressos de sua doutrina e de seus exemplos no coração dos homens.
Anjos e Tronos lhe formavam a corte maravilhosa. Dos céus à Terra, foi colocado outro símbolo da escada infinita de Jacó, formado de flores e de  estrelas cariciosas, por onde o Cordeiro de Deus transpôs as imensas distâncias,  clarificando os caminhos cheios de treva. Mas, se Jesus vinha do coração  luminoso das esferas superiores, trazendo nos olhos misericordiosos a visão  dos seus impérios resplandecentes e na alma profunda o ritmo harmonioso dos astros, o planeta terreno lhe apresentava ainda aquelas mesmas veredas  escuras, cheias da lama da impenitência e do orgulho das criaturas humanas, e  repletas dos espinhos da ingratidão e do egoísmo. Embalde seus olhos  compassivos procuraram o ninho doce do seu Evangelho; em vão procurou o  Senhor os remanescentes da obra de um de seus últimos enviados à face do  orbe terrestre. No coração da Úmbria haviam cessado os cânticos de amor e de  fraternidade cristã. De Francisco de Assis só haviam ficado as tradições de  carinho e de bondade; os pecados do mundo, como novos lobos de Gúbio,  haviam descido outra vez das selvas misteriosas das iniquidades  humanas,  roubando às criaturas a paz e aniquilando-lhes a vida.
Helil  — disse a voz suave e meiga do Mestre a um dos seus mensageiros, encarregado dos problemas sociológicos da Terra  —, meu  coração se enche de profunda amargura, vendo a incompreensão dos homens,  no que se refere às lições do meu Evangelho. Por toda parte é a luta fratricida,  como polvo de infinitos tentáculos, a destruir todas as esperanças; recomendeilhes que se amassem como irmãos,  e vejo-os em movimentos impetuosos,  aniquilando-se uns aos outros como Cains desvairados.
— Todavia — replicou o emissário solícito, como se desejasse desfazer  a impressão dolorosa e amarga do Mestre  —, esses movimentos, Senhor, intensificaram as relações  dos povos da Terra, aproximando o Oriente e o  Ocidente, para aprenderem a lição da solidariedade nessas experiências
penosas; novas utilidades da vida foram descobertas; o comércio progrediu  além de todas as fronteiras, reunindo as pátrias do orbe. Sobretudo, devemos  considerar que os príncipes cristãos, empreendendo as iniciativas daquela  natureza, guardavam a nobre intenção de velar pela paisagem deliciosa dos  lugares santos.
— Mas — retornou tristemente a voz compassiva do Cordeiro —, qual  o lugar da Terra que não é santo? Em todas as partes do mundo, por mais  recônditas que sejam, paira a bênção de Deus, convertida na luz e no pão de  todas as criaturas. Era preferível que Saladino guardasse, para sempre, todos  os poderes temporais na Palestina, a que caísse um só dos fios de cabelo de um  soldado, numa guerra incompreensível por minha causa, que, em todos os  tempos, deve ser a do amor e da fraternidade universal. E, como se a sua vista devassasse todos os mistérios do porvir,  continuou:
— Infelizmente, não vejo senão o caminho do sofrimento para  modificar tão desoladora situação. Aos feudos de agora, seguir-se-ão as coroas  poderosas e, depois dessa concentração de autoridade e de poder, serão os  embates da ambição e a carnificina da inveja e da felonia, pelo predomínio do mais forte. A amargura divina empolgara toda a formosa assembleia de querubins  e arcanjos. Foi quando Helil, para renovar a impressão ambiente, dirigiu-se a  Jesus com brandura e humildade:
— Senhor, se esses povos infelizes, que procuram na grandeza material uma felicidade impossível, marcham irremediavelmente para os grandes  infortúnios coletivos, visitemos os continentes ignorados, onde espíritos jovens  e simples aguardam a semente de uma vida nova. Nessas terras, para além dos  grandes oceanos, poderíeis instalar o pensamento cristão, dentro das doutrinas  do amor e da liberdade.
E a caravana fulgurante, deixando um rastro de luz na imensidade dos espaços, encaminhou-se ao continente que seria, mais tarde, o mundo  americano.
O Senhor abençoou aquelas matas virgens e misteriosas. Enquanto as  aves lhe homenageavam a inefável presença com seus cantares harmoniosos, as  flores se inclinavam nas árvores ciclópicas, aromatizando-lhe as eterizadas  sendas. O perfume do mar casava-se ao oxigênio agreste da selva bravia,  impregnando todas as coisas de um elemento de força desconhecida. No solo,  eram os silvícolas humildes e simples, aguardando uma era nova, com o seu  largo potencial de energia e bondade.
Cheio de esperanças, emociona-se o coração do Mestre, contemplando  a beleza do sublimado espetáculo.
— Helil — pergunta ele —, onde fica, nestas terras novas, o recanto planetário do qual se enxerga, no infinito, o símbolo da redenção humana?
— Esse lugar de doces encantos, Mestre, de onde se veem, no mundo,  as homenagens dos céus aos vossos martírios na Terra, fica mais para o sul. E, quando no seio da paisagem repleta de aromas e de melodias, contemplavam as almas santificadas dos orbes felizes, na presença do Cordeiro,  as maravilhas daquela terra nova, que seria mais tarde o Brasil, desenhou-se no firmamento, formado de estrelas rutilantes, no jardim das constelações de  Deus, o mais imponente de todos os símbolos.
Mãos erguidas para o Alto, como se invocasse a bênção de seu Pai para todos os elementos daquele solo extraordinário e opulento, exclama então Jesus:
— Para esta terra maravilhosa e bendita será transplantada a árvore  do meu Evangelho de piedade e de amor. No seu solo dadivoso e fertilíssimo,  todos os povos da Terra aprenderão a lei da fraternidade universal. Sob estes  céus serão entoados os hosanas mais ternos à misericórdia do Pai Celestial. Tu, Helil, te corporificarás na Terra, no seio do povo mais pobre e mais trabalhador  do Ocidente; instituirás um roteiro de coragem, para que sejam transpostas as  imensidades desses oceanos perigosos e solitários, que separam o velho do  novo mundo. Instalaremos aqui uma tenda de trabalho para a nação mais
humilde da Europa, glorificando os seus esforços na oficina de Deus.
Aproveitaremos o elemento simples  de bondade, o coração fraternal dos  habitantes destas terras novas, e, mais tarde, ordenarei a reencarnação de  muitos Espíritos já purificados no sentimento da humildade e da mansidão,  entre as raças oprimidas e sofredoras das regiões africanas, para formarmos o pedestal de solidariedade do povo fraterno que aqui florescerá, no futuro, a fim  de exaltar o meu Evangelho, nos séculos gloriosos do porvir. Aqui, Helil, sob a luz misericordiosa das estrelas da cruz, ficará localizado o coração do mundo!
(...)

Peço que reflita neste pequeno trecho do livro, principalmente nas áreas grifadas.

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