- Primeiro Lastro
Ortodoxia
“Já é tempo de abandonar a ortodoxia sistemática,
deixar de parte qualquer propensão a misticismo, para verificar as lacunas que
porventura existam no edifício maravilhoso da codificação kardeciana.”[1]
São com estas palavras que Armond inicia o Cap. 2 do
Livro Mediunidade, nos lembrando com
precisão que a Doutrina Espírita está alicerçada em um tripé dinâmico, que
acompanha o progresso científico, social e cultural da humanidade.
Muitas vezes nos pegamos sedimentados em conceitos e posturas
que foram à época válidos, mas que agora necessitam ser revisados e analisados,
sob a ótica de um processo intenso de busca do ponto primordial, ou seja,
necessitamos aliar todo o conhecimento adquirido até aqui, com os primeiros
passos da mediunidade.
Pode parecer um pouco contraditório num primeiro momento, mas
na busca do entender, deixamos de lado o sentir.
Falamos em aprimoramento mediúnico, nos olvidamos da
necessidade do aprimoramento íntimo do médium, quedamos infinitas horas
debruçados sobre a larga bibliografia, e deixamos de exercitar a prática
simples e comum da comunicação. Tanto é, que existem confrades que negam serem
médiuns, visto que isto caiu de “moda”.
Quando olhamos o edifício da codificação, nos deparamos com o
primeiro lastro, que é a ciência, ou seja, a experimentação dos processos
desenvolvidos em nosso meio. Terreno que foi fertilmente trabalhado por Armond e
aparentemente abandonado pelos que o sucederam no movimento. Muitos acham que
Armond já nos deixou tudo o que necessitaríamos para nosso desenvolvimento,
enquanto movimento, mas eu ouso contradizer, pois muito ainda temos que sentir,
compreender e fazer para que o projeto Aliança, no campo da mediunidade alcance
seu objetivo, quantos médiuns psicógrafos temos em nossas Casas, e quantas
publicações o movimento conseguiu editar?
Muitas vezes, pelo nosso comodismo, usurpamos o conhecimento
da humanidade. Isto é certo? Não podemos mais, deixar que o conhecimento que é
apresentado em nosso seio se perca, por culpa da nossa acomodação.
A Doutrina Espírita necessita do empenho e dedicação de cada
um que a abraça, este pedido esta contida no Prolegômenos do Livro dos
Espíritos: “É com perseverança que chegarás a recolher o fruto do teu trabalho.
O prazer que experimentarás vendo a doutrina se propagar e ser compreendida te
será uma recompensa da qual conhecerás todo o valor, talvez mais no futuro que
no presente. Não e inquietes, pois, com as sarças e as pedras que os incrédulos
ou os maus semearão sobre teu caminho. Conserva a confiança tu chegarás ao fim,
e merecerás ser sempre ajudado.”[2]
Então diante deste quadro, necessitamos no libertar das
auto-ortodoxias que criamos, pois a doutrina é dinâmica e não aceita em seu
contexto limitações para a busca de conhecimento e sentimento.
Igual a Paulo de Tarso, precisamos ousar mais, sair da nossa
área de comodismo e adentrar ao campo daquilo que ainda não compreendemos.
Afinal nossa primeira estrutura fundamental é a ciência.
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