Por Rubens
Saraceni
Nós sabemos que o ato de incorporar
espíritos acontece desde os primórdios da humanidade sendo que tanto acontecem
incorporações controladas quanto totalmente fora de controle.
As incorporações controladas acontecem
dentro de trabalhos mágico-religiosos, também tão antigos quanto a humanidade,
não sendo privilégio da Umbanda reproduzir regularmente este fenômeno mediúnico
porque povos muito antigos e que desconhecem a existência da Umbanda já
praticam há milênios a incorporação controlada de espíritos ainda que elas se
mostrem menos elaboradas que na Umbanda, pois esta ritualizou e diferenciou a incorporação.
Já as incorporações descontroladas vêm
acontecendo desde os primórdios da humanidade e não está limitada a um ou outro
povo porque acontece em todos os lugares sendo que nem sempre foi aceita como
tal e sim se atribuiu a este fenômeno a denominação de loucura, segregando
estas pessoas de suas famílias e da sociedade porque, quando possuídas
tornam-se incontroláveis.
A incorporação ou possessão
descontrolada de espíritos foi explicada no decorrer dos tempos por todas as
religiões e cada uma a descreveu segundo o seu entendimento sobre o assunto,
com cada uma desenvolvendo um formulário mágico-ritualístico para lidar com
este fenômeno.
Ainda hoje, em pleno século XXI, vemos
algumas religiões lidando com este fenômeno
de um modo arcaico e já ultrapassado,
pois desde o advento de Allan Kardec e do espiritismo essas possessões foram
muito bem explicadas e colocadas à disposição de todos, facilitando a
compreensão da mediunidade, que não tem nada a ver com a existência de um
suposto “diabo” tão poderoso e oposto a Deus que vive atentando as pessoas e
possuindo-as para levá-las para o inferno.
Hoje, graças ao trabalho de Allan Kardec
compreendemos perfeitamente estas possessões descontroladas e até podemos
auxiliar médiuns possuídos por espíritos vingativos a lidarem com esta
faculdade mediúnica livrando-os do sofrimento ao qual estavam submetidos.
Então, que fique bem claro para todos
que não existe uma só religião para auxiliar pessoas com desequilíbrios
acentuados em suas faculdades mediúnicas.
Para uma correta compreensão da
possessão descontrolada temos que:
1º Acreditar na imortalidade do
espírito.
2º Acreditar que se muitos evoluem no
plano material e desenvolvem um elevado estado de consciência que os conduz a
planos espirituais luminosos também acontece a regressão consciencial que
conduz muitos espíritos a planos espirituais escuros retendo-os para que, no arrependimento
corrijam-se.
3º Também sabemos que, assim como muitos
espíritos que evoluíram agradecem a Deus e colocam-se como auxiliares dos que
reencarnam, muitos dos espíritos que regrediram consciencialmente revoltam-se
contra Deus e tornam-se perseguidores dos espíritos
encarnados e principalmente daqueles que
eles acham que são os responsáveis pelas suas quedas.
4º Esses espíritos “caídos” formam
numerosas hordas de afins que sentem prazer em desencaminhar os espíritos
retidos nas faixas vibratórias negativas, desenvolvendo neles a revolta contra
Deus e a busca de vingança contra seus desafetos ou inimigos ainda encarnados
ou não.
Pois bem, como isto já foi muito bem
descrito por Allan Kardec, que criou um sistema de lidar com estes espíritos
dando origem ao espiritismo então precisamos compreender o contexto onde se
insere a Umbanda, que adotou muitos dos conhecimentos trazidos por Allan
Kardec, mas adaptou-os em uma forma diferente de utilizá-los.
Se no início do século XX o espiritismo
estava em plena expansão desenvolvendo um trabalho muito grande de auxílio às
pessoas obsediadas por seus algozes espirituais, no entanto eles se deparavam
com a imensa quantidade de pessoas que não estavam sofrendo obsessão, mas sim
eram vítimas das mais diversas modalidades de magia negativa praticadas aqui no
plano material por pessoas conhecedoras delas e que recorriam a elas para se
vingarem dos seus desafetos ou inimigos encarnados.
Com as possessões ou obsessões o
espiritismo lutava muito bem, mas, com as magias negativas englobadas no nome
“magia negra” não possuíam os recursos mágicos necessários para anulá-las e
libertar as pessoas de ações muito bem direcionadas para destruí-las.
Voltando no tempo nós encontramos em
todos os continentes varias religiões, muitas delas já desaparecidas, que
tinham a magia positiva ou “branca”, que era recurso para anularem as ações
mágicas negativas e livrarem as pessoas vitimadas por elas dos sofrimentos que
elas lhes acarretavam.
Mas muitas destas antigas religiões que
tinham na magia positiva o antídoto correto contra a magia negativa haviam
desaparecido quase por completo, só restando poucos conhecedores profundos da
verdadeira magia delas. Então o plano espiritual se movimentou para criar, nos
moldes do espiritismo, uma nova religião que teria na magia um poderoso recurso
para auxiliar pessoas vitimadas pelos que recorriam à magia negra para
atingi-los.
O pouco que havia restado dessas antigas
religiões estava refém de algumas pessoas que não se limitavam só a prática da
magia branca e sim, dependendo da recompensa também realizavam magias nefastas
ao gosto dos seus contratantes.
Porque eram muitos os que procuravam
este tipo de acerto de contas com seus desafetos ou inimigos, muito era o
sofrimento das pessoas vitimadas por elas e que, se não podiam pagar para quem
sabia desmanchá-las, ficavam sofrendo sem ter a quem recorrer, pois tanto a
feitiçaria indígena praticada aqui no Brasil quanto a europeia e a africana,
etc., não fazem distinção na sua prática e sim, tanto a realizam para o bem
quanto para o mal sendo que seus praticantes atribuem a responsabilidade por
elas aos que os contratam, eximindo-se de qualquer culpa.
Diante desse quadro sombrio foi que a
espiritualidade superior se organizou para criar uma religião nos moldes do
espiritismo, voltada para a prática da magia branca, com uma dinâmica própria
para se contrapor à prática da magia negra.
Assim como a prática da magia negra
envia para as faixas negativas os seus praticantes, a magia branca envia para
as faixas positivas os praticantes dela.
E foi entre os espíritos praticantes da
magia branca que essa nova religião ressonou mais intensamente atraindo muitos
milhares deles que aceitaram organizar-se para, através da incorporação mediúnica
controlada, começarem a ajudar as pessoas vítimas de magias negras.
Espíritos de grande evolução
arregimentaram muitos milhares de outros que já seguiam suas orientações e
diante dos Sagrados Orixás assumiram o compromisso de, dentro da nova religião,
criarem linhas de trabalhos espirituais que ligadas e regidas pelos Orixás
formariam a espinha dorsal da nova religião denominada inicialmente de Linha
Branca de Umbanda e Demanda.
Esses espíritos de grande evolução
arregimentaram muitos milhares de outros espíritos também conhecedores da magia
e que, em suas últimas encarnações haviam pertencido a várias religiões e povos
diferentes, inclusive praticavam de formas diferentes suas ações e, que quando
começaram a incorporar solicitavam dos seus médiuns elementos de magia
diversificados.
Uns trabalhavam com ervas, outros com
velas, outros com colares, outros com pontos riscados, outros com fitas, linhas
e cordões, outros com bebidas, outros com pós, etc. criando em pouco tempo um
vasto formulário mágico umbandista que, se usava os mesmos elementos usados em
outras religiões mágico-religiosas, no entanto davam a estes elementos uma
utilização diferente e isto causou espanto nos tradicionalistas que,
desconhecendo o poder mágico dos guias de Umbanda achavam que a nova religião
agia de forma profana com elementos de magia tidos como sagrados para eles.
Na verdade, não são os elementos que
contêm poderes em si mesmos e sim eles estão nas mãos dos espíritos guias de
Umbanda que os manipulam segundo a necessidade das pessoas que os consultam e
eles, livres de qualquer convencionalismo ou ritualismo os manipulam o tempo
todo sem se preocuparem com o que deles falem quem duvida dos seus poderes
mágicos.
Portanto a nova religião criada com o
nome de Umbanda diferencia-se do espiritismo tradicional, ainda que se sirva
dos seus conhecimentos, e diferencia-se dos tradicionais cultos
afro-ameríndiobrasileiros porque ainda que se sirva das suas nomenclaturas ou
iconografia, no entanto deu a elas uma nova utilização e entendimento visando
facilitar seus trabalhos mágico-religiosos em benefício das pessoas vitimadas
por nefastas magias negativas.
Esta simplificação na manipulação dos
elementos de magia e de culto e acesso as Divindades é o que diferencia a
Umbanda do moderno espiritismo e das antiguíssimas religiões mágicas e
engana-se quem pensa que todos os espíritos são iguais, pois há aqueles que não
são capazes de uma única ação mágica e há os que têm um grande poder de
realização desenvolvido quando ainda viviam no plano material e que foram aperfeiçoados
depois que desencarnaram e que, já livres das limitações do corpo biológico
sentiram-se aptos a ampararem muitas pessoas ao mesmo tempo, trabalho este que
podem realizar após ingressarem em alguma linha de trabalhos espirituais umbandistas.
Não houve o acaso na criação da Umbanda
e ela atendeu a um clamor dos espíritos altamente evoluídos direcionado a Deus
para que Ele lhes facultasse uma via religiosa afim com suas formações passadas
onde, ainda no plano material, já se dedicavam a amparar e ajudar pessoas
vitimadas por magias negativas ou perseguidas por seus inimigos espirituais.
Muitos, ao descreverem a criação da
Umbanda limitam-se ao evento acontecido no lado material com o seu fundador pai
Zélio Fernandino de Morais e não atinam com a sua real criação já acontecida no
plano espiritual.
Portanto que nenhum médium umbandista se
surpreenda com a forma dos seus guias trabalharem e não atribua a eles
ignorância ou atraso religioso porque as ditas religiões mentalistas ou filosóficas
não sabem como combater as ações mágicas negativas desencadeadas em grande
parte por seguidores delas que buscam nessa modalidade de magia acertar suas
contas pendentes com seus inimigos encarnados e, justamente por não saberem
lidar de forma correta com a magia negra e com as hordas de espíritos trevosos
que atormentam seus seguidores, preferem atribuir o sofrimento deles a um
suposto diabo, oposto a Deus, do que reconhecerem que a prática do mal contra
os seus semelhantes é inerente ao ser humano, mas que essas religiões não sabem
como combater.
Matéria do Jornal Nacional de
Umbanda
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