domingo, 13 de maio de 2012

Preto-velho na Cultura Brasileira e na Umbanda


Por Alexandre Cumino

Pai Antonio foi o primeiro preto-velho a se manifestar na Religião de
Um­banda em seu médium Zélio Fer­nandino de Morais onde se esta­be­leceu a
Tenda Nossa Senhora da Pie­dade. Assim, ele abriu esta “linha” pa­ra nossa
religião, introduzindo o uso do cachimbo, guias e o culto aos Orixás.

O “Preto-velho” está ligado à cul­tura religiosa Afro Brasileira em geral e
à Umbanda de forma especí­fica, pois den­tro da Religião Umban­dista este
termo identifica um dos elementos for­madores de sua litur­gia, representa
uma “linha de tra­balho”, uma “falange de espíritos”, to­do um grupo de
mentores espi­ri­tuais que se apresentam como ne­gros anciões, ex-escravos,
conhe­ce­­dores dos Orixás Africanos.

São trabalhadores da espiritua­lidade, com características próprias e
cole­tivas, que valorizam o grupo em detri­mento do ego pessoal, ou seja,
são simplesmente pretos e pretas velhas com Pai João e Vó Maria, por
exem­plo.

Milha­res de Pais João e de Avós Maria, o que mostra um trabalho
desper­sonalizado do elemento indivi­dual valorizando o elemento coletivo
identificado pelo ter­mo genérico “preto-velho”. Muitos até dizem “nem tão
preto e nem tão velho” ainda assim “preto velho fulano de tal”.  A falta de
informa­ção é a mãe do precon­ceito, e, no caso do “preto-ve­lho”, muitos
que são leigos da cultura religiosa Umbandista ou de origem africana
desconhecem  valor do “preto-velho” dentro das mes­mas.

Preto é Cor e Ne­gro é Raça, logo o ter­mo “preto-velho” tor­na-se
caracte­rís­tico e com sentido ape­nas dentro de um con­texto, já que fora
de tal contexto o termo de uso amplo e irres­trito seria “Negro Vel­ho”,
“Negro An­cião” ou ainda “Ne­gro de idade avan­çada” para iden­ti­fi­car o
ho­mem da ra­ça ne­gra que encon­tra-se já na “terceira idade” (a melhor
ida­de). Por conta disso alguns sentem-se des­con­for­táveis em utilizar um
ter­mo que à primeira vista pode parecer des­respei­toso ao citar um amável
senhor negro, já com suas madeixas bran­cas, cachimbo e sorriso fácil, por
trás do olhar de homem sofri­do, que na humildade da subju­gação forçada e
escrava encontrou a liberdade do espí­rito sobre a alma, através da
sabedoria vinda da Mãe África, na figura de nossos Orixás, vindo de encontro
à imagem e resignação de nosso senhor Jesus Cristo.

Alguns preferem chamá-los ape­nas de “Pais Velhos” o que é bonito ao
ressaltar a paternidade, mas ao mesmo tempo oculta a raça que no caso é
motivo de orgulho. São eles que sou­be­ram passar por uma vida de escravidão
com honra e nobreza de caráter, mais um motivo de or­gulho em se
auto-afirmar “nêgo véio” e ex-escravo; talvez as­sim se man­tenham para que
nunca nos esque­çamos que em qualquer situa­ção temos ainda opor­tunidade de
evo­luir. Quanto mais adver­sa maior a oportu­nidade de dar o testemunho de
nos­sa fé.

O “preto-ve­lho” é um ícone da Umban­da, resu­min­do em si boa parte da
filosofia um­ban­dista. Assim, os es­pí­ritos desen­car­­nados de
ex-es­cravos se iden­ti­fi­cam e muitos ou­tros que não foram escra­vos,
nesta con­dição, as­sim se apre­sentam tam­bém em home­nagem a eles, por
tê-los como Mes­tres no astral.

No imaginário po­pular, por falta de informação ou por má fé de al­guns
formadores de opinião, a ima­gem do “preto-velho” pode estar asso­ciada por
alguns a uma visão preconceituosa, há ainda os que se assustam “com estas
coisas” pois não sabem que a Um­banda é uma religião e como tal tem a única
proposta de nos religar a Deus, mani­festando o espírito para a caridade e
de­senvol­vendo o senti­mento de amor ao pró­ximo.  Não existe uma Umbanda
“boa” e uma Umbanda “ruim”, existe sim única e exclusi­vamente uma única
Umbanda que faz o bem, caso con­trário não é Umbanda e assim é com os
“Preto-velhos”, todos fazem o bem sem olhar a quem, caso con­trário não é de
fato um “preto-velho”, pode ser alguém disfarçado de “velho-negro”, o “preto
velho” tra­balha única e exclusivamente para a caridade es­piritual

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